sábado, 28 de maio de 2011

A Mulinha sem Cabeça

Em uma cidadezinha no interior chamada Quetaí existe uma mata, esta mata tem a fama de abrigar Lobisomens, Saci Pererê, Boi Tatá, Fantasmas e principalmente Mulas Sem Cabeça.
         O prefeito da cidade é João Honesto, que ganhou o posto de prefeito de Tião Cavalgo, quando Tião Cavalgo perdeu as eleições para prefeito, ele sumiu da cidade com o seu cavalo Paco.
        
          Certo dia, o prefeito João Honesto acordou com sua casa em chamas.
         Ele saiu correndo e chamou todos os homens da região para apagarem o fogo. O fogo foi apagado, mas uma dúvida ficou na cabeça de João Honesto, como a casa havia pegado fogo? Quem teria feito isso?
         João Honesto andou pela casa inteira em busca de pistas, mas tudo o que achou foram algumas pegadas de cavalo.
         O prefeito João Honesto gritou muito alto:
         _ Quem botou fogo na minha casa?
         Um garoto que estava segurando uma pipa gritou:
         _ Aposto que foi a Mula Sem Cabeça!
         Muitas das pessoas que estavam ali no tumulto começaram a rir, muitos acharam aquilo uma besteira, outros acharam que o garoto estava certo, uma mulher que trabalhava como vidente disse em um tom de voz muito sério:
         _ Pode parecer besteira, mas o garoto está certo, mulher que namora padre vira Mula Sem Cabeça, homem que namora freira vira Mula Sem Cabeça, a Mula Sem Cabeça é uma mula que não tem cabeça e no lugar da cabeça tem uma enorme tocha de fogo, as Mulas Sem Cabeças matam as freiras, os padres e seus parentes tentando se vingar, pois o poder que Deus dá aos padres e as freiras é que transforma os humanos em Mula Sem Cabeça. E pelo o que eu sei, o primo do prefeito, é o padre daqui da cidade.
         Todos, até mesmo os que estavam rindo, pararam para ouvir a vidente falando, ela estava totalmente certa, o padre Expedito era primo do prefeito João Honesto. Ninguém resolveu questionar a vidente.
         O prefeito falou alto para que todos pudessem ouvir:
         _ Eu mandarei dois homens até a floresta para pegarem a Mula Sem Cabeça e matarem, quero ver essa tal de Mula Sem Cabeça morta na minha frente. Quem vão ser os dois homens atrás da mula? Alguém quer ir atrás da mula?
         Dois homens saíram do meio da multidão, um deles usava chapéu e óculos, o outro era careca e bigodudo. O de óculos e chapéu disse:
         _ Nós vamos. Eu sou Afonso Valente...
         O careca e bigodudo completou;
         _ E eu sou Inácio Assustado, somos dois amigos e vamos pegar essa Mula Sem Cabeça. É claro que não vamos fazer isso de graça, só pegaremos essa Mula Sem Cabeça se o senhor prefeito der as espingardas para nós e der mil moedas de ouro para cada um de nós.
         O prefeito concordou:
         _ Está tudo bem, eu dou as moedas, mas só depois que eu ver essa Mula Sem Cabeça morta na minha frente. Dou uma espingarda para cada um e vocês partem agora mesmo para a floresta.
          O prefeito entrou em sua casa e pegou duas espingardas que estavam meio sujas de cinza por causa do incêndio na casa.
         Afonso Valente e Inácio Assustado pegaram as espingardas e entraram na floresta acenando com a mão para a multidão.
         Assim que entraram na floresta, Inácio olhou para Afonso e disse com uma voz fina e assustada:
         _ Ai, Inácio, não sei como eu entrei na sua idéia, eu morro de medo dessa tal de   Mula Sem Cabeça, e nem sei usar esse treco de espingarda direito.
          Afonso disse irritado á Inácio:
         _ Está bem, vamos treinar o seu tiro, mire naquela árvore e puxe o gatilho.
         Inácio levantou á espingarda e mirou na árvore, ele puxou o gatilho e atirou. Fez um barulho muito alto, o tiro acertou diretamente na árvore, exatamente no lugar em que Inácio havia mirado.
         Afonso disse:
         _ Viu Inácio? Eu sabia que você tem o tiro bom, agora vamos atrás dessa mula.
         Assim que Afonso disse isso, surgiu uma onça-pintada que rugiu e disse:
         _ O tiro me assustou. Agora vocês vão pagar por isso.
         Algumas cinzas vieram de uma moita e caíram em cima da pata da onça, a onça se assustou com as cinzas e rugiu para a moita, depois do rugido da onça, se ouviu um barulho diferente, se ouviu o barulho de cascos de cavalo batendo no chão, assim que ouviu esse som, a onça saiu correndo com uma cara totalmente assustada.
         E de trás da moita, saiu um filhotinho de Mula Sem Cabeça, praticamente um Potro Sem Cabeça.

Afonso já foi erguendo a espingarda para atirar na mulinha, quando Inácio disse:
         _Não mate a mulinha. Foi ela quem nos salvou daquela onça, nós de víamos agradecer. Aliás, essa mula é muito pequena para ter incendiado aquela casa enorme do prefeito João Honesto, aposto que foi outra Mula Sem Cabeça que incendiou aquele casarão.
         Inácio olhou para a mulinha e disse:
         _ Meu nome é Inácio Assustado.
         E a mulinha respondeu:
         _ E eu sou Lília.
         Afonso abaixou a espingarda e disse á mulinha:
         _ Meu nome é Afonso Valente. Você não é muito nova para ter namorado um padre?
         A mulinha Lília riu e respondeu;
         _ Eu nunca namorei com um padre, só sou uma Mula Sem Cabeça porque meu pai é uma Mula Sem Cabeça e minha mãe é uma Mula Sem Cabeça.
         Lília olhou para o chão e disse com uma voz triste:
         _ Estou perdida. Fui dar um passeio pela floresta e me perdi. Sei o caminho de casa mas tenho medo de voltar sozinha, vocês me levam até em casa?
         Inácio morria de medo de Mulas Sem Cabeça, por isso respondeu rapidamente:
         _ Eu não vou não! Se o Afonso quiser ir, ele que vá sozinho.
         Afonso se aproximou de Inácio e disse em sua orelha:
         _ Você tem razão, Lília não pode ter incendiado a casa do prefeito, mas os pais dela podem ter feito isso, vamos levar ela até a casa dela e depois matamos os pais dela, trazemos para a cidade e ainda ganhamos mil moedas de ouro cada um de nós. O que você acha?
         Inácio respondeu olhando para Lília:
         _ Está bem, Lília, nos te levamos até seus pais.
         Afonso e Inácio demoraram a manhã inteira até chegarem à caverna em que os pais de Lília moravam. Ao ver a caverna, Lília ficou muito entusiasmada, ela disse:
_ Vamos, eu moro naquela caverna com os meus pais, eles estão lá dentro, vamos.
         Lília entrou na caverna e lá estavam seus pais, ela começou a dizer:
         _ Mãe, pai, eu me perdi na floresta, mas dois novos amigos me ajudaram a chegar até aqui. Afonso, Inácio, entrem.
         Assim que Lília disse isso, Inácio e Afonso entraram na caverna com as espingardas apontando para os pais de Lília.
         Afonso disse:
         _ Só ajudamos a Lília a chegar até aqui para podermos matar vocês.
         A Mula Sem Cabeça Mãe perguntou:
         _ Mas por que vocês querem nos matar?
         E Inácio respondeu:
         _ Porque vocês incendiaram a casa do prefeito João Honesto.
         O pai de Lília disse:
         _ Não fomos nós, mas eu sei quem foi.
         Afonso abaixou a espingarda e perguntou:
         _ E quem foi que incendiou a casa do prefeito?
         O pai de Lília respondeu:
         _ Eu não sei o nome dele. Mas sei como ele é, ele tem cabelos compridos e olhos verdes, ele também anda em um cavalo branco com manchas pretas. Eu sei onde ele fica, posso levar vocês até ele se nos deixarem em paz.
         Afonso e Inácio toparam, o pai de Lília e a mãe de Lília iam na frente, Lília ia nas costas do pai dela, e Afonso e Inácio iam atrás com as espingardas prontos para atirarem em qualquer onça-pintada que aparecesse na frente deles.
         O pai de Lília ficou parado e silencioso, ele apontou com a cabeça para uma enorme pedra e disse:
         _ Eles moram aí, vamos atacar.
         Mas antes Inácio disse:
         _ Espere, vamos olhar quem é antes.
         Eles olharam disfarçadamente atrás da pedra e ficaram surpresos, era Tião Cavalgo, o homem que havia perdido as eleições para prefeito da cidade Quetaí, ele era vendedor de velas, com certeza havia usado as velas para incendiar a casa do prefeito como vingança, e as pegadas de cavalo eram do cavalo dele, o Paco. Tião Cavalgo estava dizendo a Paco:
         _ Sabe, Paco, vamos incendiar a cidade inteira com as minhas velas e vamos deixar as suas pegadas por lá para todos pensarem que foi a Mula Sem Cabeça que incendiou a cidade. Vamos.
         O pai de Lília, a mãe de Lília, Afonso e Inácio saíram detrás da pedra dizendo:
         _ Vocês não vão á lugar algum!
         Inácio parou um pouco de olhar para Tião Cavalgo e Paco e perguntou bem baixinho para a mãe de Lília:
         _ Onde está a Lília?
         E a mãe de Lília respondeu:
         _ Eu mandei ela ir buscar a ajuda de alguns amiguinhos dela que , como toda criança, ficam com insônia ás vezes.
         Inácio ficou meio impressionado. Como alguns amiguinhos de um filhote de Mula Sem Cabeça poderiam ajudar eles á se livrarem de Tião Cavalgo? Mas Inácio nem ligou e continuou olhando para Tião Cavalgo.
         Tião Cavalgo pegou uma tocha de fogo e disse:
         _ Vocês vão morrer queimados.
         Logo se ouviu um canto bonito, mas meio desafinado, no mesmo momento, Tião Cavalgo disse:
         _ Estranho, mas eu sinto uma pequena vontade de ir nadar bem no fundo do riacho.
         Uma voz bem fina perguntou:
         _ Pequena vontade? Não foi um grande desejo? Mamãe está certa, preciso treinar meu canto mágico.
         Tião Cavalgo perguntou:
         _ Quem disse isso?
         Uma sereiazinha bem pequena saiu do meio das plantas e respondeu:
         _ Eu disse. Sou Lara, filha da sereia Iara do folclore brasileiro. Estou aqui pronta para ajudar minha amiguinha Lília, ela ainda está chamando alguns amiguinhos nossos.
 Um sacizinho sai do meio das plantas dizendo:
         _ E eu sou Peri, filho do Saci-Pererê do folclore brasileiro.
         Do meio de outras folhas saiu um negrinho com roupas sujas e rasgadas montado em um enorme cavalo, o negrinho disse:
         _ E eu sou o famoso Negrinho do Pastoreio do folclore brasileiro.
         Um filhotinho de lobisomem saiu do meio das folhas e disse:
         _ Eu sou o Lobisomenino, filho do famoso Lobisomem do folclore estrangeiro e brasileiro.
         Depois apareceu Lília dizendo:
         _ Ainda não acabou, ainda falta um amigo meu. Entre Beto.
         Do meio das folhas saiu um menino de roupas brancas, sapatos brancos e um chapéu branco. Esse menino andava em cima de Paco, o cavalo de Tião Cavalgo. O menino disse:
         _ Hei Tião Cavalgo, sou Beto, filho do Boto Cor de Rosa do folclore brasileiro. Seu cavalo já se arrependeu do que fez, você se arrepende e pede desculpas?
         Totalmente aterrorizado, Tião nem respondeu, se virou e fugiu, mas não conseguiu ir muito longe pois desmaiou de medo de uma cobra gigantesca com olhos vermelhos que se aproximou de todos e disse:
         _ Meu filho Tadeu não pôde vir, pois está com gripe, mas eu, o próprio Boi Tatá, fiz questão de ajudar.
         Depois de levarem Tião Cavalgo e Paco até a cidade, Inácio e Afonso pegaram suas moedas de recompensa e nunca mais foram vistos na cidade de Quetaí.
         Afonso Valente usou suas moedas para comprar uma enorme mansão em uma cidade muito longe de Quetaí.
         E Inácio Assustado usou suas moedas para comprar uma casa na mata de Quetaí. Inácio começou a estudar as criaturas do folclore brasileiro, principalmente os filhotes e as Mulas Sem Cabeças.




Ps: Gostaria de pedir que não julgassem meu "talento para escrever" a partir deste texto, é que o escrevi há algum tempo atrás e resolvi colocar aqui só para não deixar o blog sem movimento.
Ainda sim, dedico este post a meu amigo Anselmo dos Santos, que confia muito na minha capacidade de escrever. Valeu, Anselmo!

2 comentários:

  1. Hum..... Foi bem criativo! Gostei mesmo da história! :D Fico imaginando a kra do Tião ao ver o Boi Tatá "em pessoa" kra a kra..... Com certeza ele precisou trocar as cuecas! KKKKKKKKKKKKKK

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, kkkk, mas é um conto infantil, cara, não tive como escrever isso.

      Excluir