sábado, 2 de julho de 2011

O último pedido de Tio Getúlio.

Tadeu Surdino era um homem educado, alinhado, bonito, religioso, trabalhador, inteligente. Praticamente um homem perfeito.
Não bebia enm em festas, somente bebia se um parente ou ente querido morresse, e era apenas um copo, em homenagem ao falecido.
O único defeito de Tadeu, é que ele tinha uma pequena deficiência no ouvido que fazia com que ele entendesse, ás vezes, as palavras de modo errado, o que era um grande transtorno em sua vida.
Trabalhava como técnico de informática, e consertava computadores de graça somente para sua família. Mas seu ouvido atrapalhava até nisso. Um dia, sua mãe lhe disse:
_Veja o computador!
E ele entendeu "Venda o computador!". Tadeu vendeu o computador, e sua mãe, que apenas queria que o aparelho fosse examinado por seu filho, acabou ficando sem a máquina.
Mas esse foi apenas um dos incidentes que o ouvido de Tadeu lhe causara.
Tadeu tinha um tio do qual gostava muito. Esse tio se chamava Getúlio, e era um verdadeiro conservador dos antigos costumes.
Tio Getúlio não bebia, não fumava, foi casado apenas uma vez, e continuava trabalhando, mesmo com oitenta e sete anos de idade.
Getúlio também gostava muito de Tadeu e vivia tentando convencer o mesmo a parar de beber, mesmo que Tadeu só bebesse quando chegava a morte de entes queridos.
Um dia, tio Getúlio ficou muito doente, e foi internado em um hospital. Tadeu, que estava muito abalado e triste com a doença do tio preferido, ficou o tempo todo com Getúlio, sentado ao lado da maca do tio.
Um dia, os médicos disseram a Tadeu que aquele seria o último dia da vida de Getúlio, e que, se ele quisesse, poderia ficar o resto da tarde conversando com o tio.
Depois de passar muito tempo chorando, Tadeu aceitou a proposta dos médicos e foi para o quarto do tio conversar com o mesmo.
Conversaram a tarde toda, mas não com a costumeira animação que Tadeu passava quando conversava com seu tio predileto.
Foi até que tio Getúlio percebeu a falta de ânimo de Tadeu e perguntou:
_Me responda, Tatá, - Era assim que ele tratava seu sobrinho. - eu não passo deste dia, não é? Diga a verdade.
_É. - Tadeu respondeu tristemente, sabia que se dissesse mais do que aquilo choraria, e não gostava de mentir para o tio.
_Quando eu morrer, qual será a primeira coisa que você fará?
_Beberei um copo de cerveja em sua homenagem. Logo depois, pararei de beber como o senhor sempre quis!
Mesmo á beira da morte, tio Getúlio continuava tentando convencer Tadeu a não beber em nenhuma circunstância (mesmo que Tadeu houvesse prometido parar de beber depois do copo em homenagem a ele) e disse:
_Não! Beber encurta a vida!
Tadeu concordou coma cabeça e saiu do quarto de hospital.
Mas para o descontentamento de tio Getúlio, a pequenda deficiência de Tadeu fez com que ele entendesse:
_Não! Beba e curta a vida!
E assim, achando que estava realizando o último pedido de seu tio Getúlio, Tadeu Surdino se tornou o maior beberrão que o Brasil já viu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário