Tadeu Surdino era um homem educado, alinhado, bonito, religioso, trabalhador, inteligente. Praticamente um homem perfeito.
Não bebia enm em festas, somente bebia se um parente ou ente querido morresse, e era apenas um copo, em homenagem ao falecido.
O único defeito de Tadeu, é que ele tinha uma pequena deficiência no ouvido que fazia com que ele entendesse, ás vezes, as palavras de modo errado, o que era um grande transtorno em sua vida.
Trabalhava como técnico de informática, e consertava computadores de graça somente para sua família. Mas seu ouvido atrapalhava até nisso. Um dia, sua mãe lhe disse:
_Veja o computador!
E ele entendeu "Venda o computador!". Tadeu vendeu o computador, e sua mãe, que apenas queria que o aparelho fosse examinado por seu filho, acabou ficando sem a máquina.
Mas esse foi apenas um dos incidentes que o ouvido de Tadeu lhe causara.
Tadeu tinha um tio do qual gostava muito. Esse tio se chamava Getúlio, e era um verdadeiro conservador dos antigos costumes.
Tio Getúlio não bebia, não fumava, foi casado apenas uma vez, e continuava trabalhando, mesmo com oitenta e sete anos de idade.
Getúlio também gostava muito de Tadeu e vivia tentando convencer o mesmo a parar de beber, mesmo que Tadeu só bebesse quando chegava a morte de entes queridos.
Um dia, tio Getúlio ficou muito doente, e foi internado em um hospital. Tadeu, que estava muito abalado e triste com a doença do tio preferido, ficou o tempo todo com Getúlio, sentado ao lado da maca do tio.
Um dia, os médicos disseram a Tadeu que aquele seria o último dia da vida de Getúlio, e que, se ele quisesse, poderia ficar o resto da tarde conversando com o tio.
Depois de passar muito tempo chorando, Tadeu aceitou a proposta dos médicos e foi para o quarto do tio conversar com o mesmo.
Conversaram a tarde toda, mas não com a costumeira animação que Tadeu passava quando conversava com seu tio predileto.
Foi até que tio Getúlio percebeu a falta de ânimo de Tadeu e perguntou:
_Me responda, Tatá, - Era assim que ele tratava seu sobrinho. - eu não passo deste dia, não é? Diga a verdade.
_É. - Tadeu respondeu tristemente, sabia que se dissesse mais do que aquilo choraria, e não gostava de mentir para o tio.
_Quando eu morrer, qual será a primeira coisa que você fará?
_Beberei um copo de cerveja em sua homenagem. Logo depois, pararei de beber como o senhor sempre quis!
Mesmo á beira da morte, tio Getúlio continuava tentando convencer Tadeu a não beber em nenhuma circunstância (mesmo que Tadeu houvesse prometido parar de beber depois do copo em homenagem a ele) e disse:
_Não! Beber encurta a vida!
Tadeu concordou coma cabeça e saiu do quarto de hospital.
Mas para o descontentamento de tio Getúlio, a pequenda deficiência de Tadeu fez com que ele entendesse:
_Não! Beba e curta a vida!
E assim, achando que estava realizando o último pedido de seu tio Getúlio, Tadeu Surdino se tornou o maior beberrão que o Brasil já viu.
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