quinta-feira, 16 de junho de 2011

Crítica Literária - O Menino do Pijama Listrado.

É difícil falar sobre um livro quando o próprio autor não encontra palavras para descrevê-lo, mas é prudente tentar.
Quando peguei o livro "O Menino do Pijama Listrado" na biblioteca de minha escola, olhei sua contra-capa esperando encontrar algum tipo de sinopse. Mas não foi isso que eu encontrei.
Encontrei comentários sobre o livro de organizações de respeito como "The Irish Independent", "USA Today" e "The Guardian". Comentários positivos, é claro, pois qual livro mostraria críticas negativas em sua contra-capa?
Depois de não encontrar sinopse na contra-capa, fui á orelha do livro. Pois quando a contra-capa é desprovida de sinopse, normalmente ela está na orelha. E o que encontrei na orelha foi o seguinte:
É muito difícil descrever a história de O Menino do Pijama Listrado. Normalmente, a orelha traz alguma dica sobre o livro, alguma informação, mas nesse caso acreditamos que isso poderia prejudicar sua leitura, e talvez seja melhor realizá-la sem que você saiba nada sobre a trama.

E isso despertou minha curiosidade. Foi como um desafio para mim. Soou como " Não vou te dizer nada. Leia-me, ou nada saberá!". E foi o que fiz!

A história se passa durante a segunda guerra mundial, antes do início dos combates.
Bruno é um garoto alemão de nove anos que se muda para um campo de concentração na Polônia com sua família, devido a um emprego que o pai (comandante do exército nazista) recebera lá. O livro perde muitos capítulos com Bruno tentando se acostumar com o novo lar, e, enquanto isso, aprendendo um pouco mais sobre os soldados do exército nazista e como tratam seus prisioneiros.
É incrível a maneira como John Boyne (autor) reproduz em Bruno a real inocência e ingenuidade das crianças reais, como quando Bruno vê os judeus (mesmo desconhecendo essa palavra) aprisionados no campo de concentração e acha que são fazendeiros.
Outro exemplo da inocência fielmente reproduzida em Bruno, é quando ele imita os adultos dizendo Heil Hitler (Viva Hitler, traduzindo do alemão para o português) como se fosse um simples "Tenha uma boa tarde" sem nem questionar seu verdadeiro significado.
No meio do livro, finalmente o título do livro faz sentido! Bruno resolve brincar de explorador e anda em volta da comprida cerca que envolvia o campo de concentração em que os prisioneiros dos nazistas (judeus, comunistas e soldados com antecentes judeus) e acaba fazendo amizade com um garoto judeu magro, de cabeça raspada e pele suja e cinzenta, que trajava todo o tempo um pijama e um boné listrados, usados para que os nazistas diferenciassem os prisioneiros dos soldados.
O garoto se chama Shmuel.
A amizade dos dois garotos nos leva a outro tópico muito interessante: O respeito pelos pais e suas decisões e opiniões.
Bruno sempre tivera muito respeito por seu pai Ralf e nunca questionara suas decisões, ás vezes até imitando seus dizeres em homenagem a Hitler ou respeitando quando seu pai lhe dizia que os judeus não eram pessoas de verdade. A questão da inocência entra de novo neste tópico, pois não é certo considerar Bruno um nazista, mas sim um garoto de linhagem nazista. Nunca, no livro, ficou provado que Bruno concordava com as opiniões de seu pai, mas ele não as questionava. Jhon Boyne não deixava isto claro no livro, outro motivo para que ele seja considerado um dos melhores escritores vivos.
Logo depois que Bruno conhece Shmuel, ele passa ver os judeus de um ponto de vista diferente. O ponto de vista em que são todos iguais, e só uma diferença de nomes não é motivo para aprisionamento e maus-tratos.
E então Bruno se vê dividido entre ser motivo de orgulho do pai seguindo seus ideais e parar para pensar no que é certo, justo e tenh sentido, como aprendeu com Shmuel.
E se Bruno escolheu ou não o caminho do nazismo ou da justiça, fica a critério e poder de percepção do leitor. Outra grande sacada de John Boyne!

Um lado intrigante sobre o estilo de escrita de John Boyne: Indiretas.
Nada é muito direto neste livro, e, como eu já disse, o que aconteceu fica ao critério e poder de percepção do leitor.
Por exemplo, é dito várias vezes que a mãe de Bruno ficava cochichando pelos cantos com o tenente Kotler, e em um capítulo até a flagra chamando-o de querido. Tempos depois disto, o pai de Bruno, comandante do exército nazista, transfere o tenente para outro país. Fica a idéia de que a mãe de Bruno e o tenente Kotler estivessem tendo o caso, mas não fica nada explicíto. Se você lesse o livro sem atenção ou interesses, nem perceberia a presença de um possível caso entre a mulher do comandante nazista e um tenente.

Outro caso de mensagem indireta no livro envolve uma pessoa muito conhecida e outra nem tanto.
Enquanto ainda estão na Alemanha, Bruno e sua família recebem a visita do Fúria e sua esposa.
O Fúria é descrito como alguém que manda no país (como um ditador) e que usava um cabelo curto e escuro, com um bigode minúsculo. Além disso, sua esposa é chamada de Eva durante a visita.
Que ditador nazista que nós conhecemos que tem cabelos curtos, bigode minúsculo e uma mulher chamada Eva?
Bem, o livro em nenhum momento diz que eram Eva e Adolf Hitler, embora isto esteja bem claro, mas não explícito.

Recomendo o livro, que agora se tornou meu predileto. Advirto que é necessário o mínimo de conhecimento sobre a Segunda Guerra Mundial e suas causas para que seja feita a leitura do livro e se tenha total entendimento.
O livro é um jeito de se autoconhecer, pois o livro coloca o personagem principal em situações em que seu caráter é testado, e ninguém lê um livro sem pensar em si mesmo.
"O que eu faria?" eu me perguntei várias vezes durante a leitura.
E antes de terminar esta crítica (que mais me pareceu uma análise) sinto que devo dar a mesma advertência que o autor do livro:
Embora o livro conte a história de um garoto de nove anos, não recomendo o livro a outros garotos de nove anos.

3 comentários:

  1. O livro é muito bom, esqueceu de falar na hora em que Pavel derruba vinho no tenente, e o autor não deixa claro o que o mesmo faz. Quando terminei de ler achei o final meio desapontante, mas depois vi que não poderia haver outro se não esse. Valeu

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    1. Sim. Assim como na vida real, o livro não deixa nada claro...e só tem um final possível.
      Obrigado. =D

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  2. Li também o livro O menino do pijama listrado,concordo que o livro não deixa nada claro,Bruno ainda pronuncia errado as palavras como o nome do campo de concentração,fala o fúria,preferiria que fosse claro,não que deixasse para o leitor associar.
    Gostei também de A menina que roubava livros e O diário de Anne Frank,mas o diário corre em torno das opiniões de vida de Anne,não muito sobre o nazismo.

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