domingo, 10 de junho de 2012

Títulos, capítulos e Renato Russo.

Ao ler um livro, existem vários momentos em que descobrimos a genialidade do autor. Esses podem ser no desenvolvimento da história, no final, na construção dos personagens ou até mesmo... ao ler o nome dos capítulos.
Muitas vezes, os capítulos de um livre vem no formato clássico, sem nome, apenas numerados com "I" "II" "III" "IV" etc. Mas quando o autor decide nomear os capítulos, é necessário que o título seja bem escolhido para que não deixe o leitor sem nenhuma informação sobre o capítulo em si e também para que não revele todas as informações que serão apresentadas ao decorrer do capítulo.
O capítulo pode ter um título simples que apenas dê uma ideia sobre a história, como J.K. Rowling faz na saga Harry Potter (com capítulos nomeados como "A Corça Prateada", "As Cartas de Ninguém" e "A Pichação na Parede"), os capítulos também podem ser nomeados de forma que atice a curiosidade do leitor, como Rick Riordan faz  na saga Percy Jackson e os Olimpianos (com capítulos nomeados como "Eu Destruo um Ônibus", "Um Poodle é o Nosso Conselheiro" e "Minha Pior Reunião de Família de Todos os Tempos" ).
Ou então, você pode se utilizar da fórmula de Arthur Dapieve faz na biografia "Renato Russo - O Trovador Solitário" e nomear capítulos com frases de "personagens" (as aspas foram inseridas já que os personagens não são personagens realmente, sendo que se trata de uma biografia) que podem definir todo o desenvolvimento do capítulo.
Para entender melhor como Dapieve nomeou os capítulos de "Renato Russo - O Trovador Solitário", veja abaixo o nome dos capítulos do livro e um pequeno resumo dos acontecimentos.


Capítulo 1 - Ele não tem desconfiômetro.


O primeiro capítulo se trata da infância de Renato Russo, época em que, não apenas Renato, mas todos nós, somos possuidores de grande inocência, pois ainda não conhecemos o "mundo lá fora" (como diria minha avó), e vemos a tudo com bons olhos, com inocência, sem desconfiar de nada, ou seja, sem o mencionado desconfiômetro.

Capítulo 2 - Eu Não Estou Impressionado.


O segundo capítulo se trata do início da adolescência de Renato, passando por sua fase punk, com brigas, críticas ao "sistema" e contato com a banda, enquanto Renato morava em Brasília. O capítulo retrata com maestria a reação de Renato a esse período conturbado cheio de rebeldia, protestos, confusões e fuck the system, e também retrata como Renato se sentia confortável e em casa com todo esse alvoroço adolescente, sem estar impressionado.

Capítulo 3 - Opa, o que é isso?


O terceiro capítulo fala sobre Aborto Elétrico, a primeira banda de Renato, uma banda punk que gerou muitos reflexos para todos os outros adolescentes daquela época. A banda impressionava a todos e, sim, era uma das bandas punk mais famosas e "glamourosas" daquela época. A banda, com seus absurdos punk, como pichações e outros atos de vandalismo comuns na comunidade punk atraía a indignação da população, fazendo com que, diante das ações do Aborto Elétrico, muitos se perguntassem "Opa, o que é isso?".

Capítulo 4 - Fiquei Paralisado.


O quarto capítulo retrata o começo da fama de Legião Urbana, a segunda e mais famosa banda de Renato Russo. Uma fama estrondosa, que veio do nada, sem aviso prévio, uma fama inesperada, gigante, mas inesperada. Uma fama que paralisaria de nervoso e surpresa até o mais forte dos homens. Uma fama que paralisou Renato Russo.

Capítulo 5 - Eles Não Tem Respostas.


Pouco depois da Legião Urbana ter conseguido uma fama inesperada, Renato passou por uma fase difícil, uma espécie de depressão, que o levou a cortar os pulsos (coisa que aconteceu pouco antes de compor a letra Índios) , e a passar várias noites sozinho, em seu quarto, chorando. Junto com a depressão, vem a natureza questionadora, a busca por respostas, e isso resultou em um episódio interessante da vida de Renato, quando seu pai o flagrou pegando todos os livros de sua prateleira e os atirando no chão gritando "Eles não tem respostas, eles não tem respostas".

Capítulo 6 - Nossa verdadeira vocação.


Além da música, Renato tinha outro grande talento. A amizade. No sexto capítulo do livro, o tema principal é as amizades de Renato, todos os vínculos que ele mantinha com pessoas sendo famosas ou não. O título do capítulo é a frase de uma amiga de Renato que, depois de passarem algumas semanas "ficando", decidindo que a verdadeira vocação deles era realmente a amizade.

Capítulo 7 - Nããããão.


O capítulo sete retrata uma época em que a Legião Urbana fazia shows com resultados violentos, quando o público atirava pedras, garrafas e outras coisas ao palco. Óbvio que quem estivesse no palco, como Renato Russo , não gostaria daquele comportamento do público, e muito menos diria "sim" a esse comportamento. Renato dizia "não" ao comportamento do público, e isso justifica o título do capítulo.

Capítulo 8 - Vocês Nem Ligaram?


O oitavo capítulo aborda o mesmo tema do sétimo capítulo, com o único "bônus" de que Renato começou a reagir aos shows violentos, deitando-se durante as apresentações, ou apenas sendo ignorante, grosso e mal-educado com todos a sua volta, já que Renato estava indignado com o fato de ninguém ter nem ligado para os shows violentos.

Capítulo 9 - Isso aqui está uma loucura!


O nono capítulo em si retrata a gravação de alguns discos da Legião Urbana, e as confusões que aconteciam durante a gravação. Na verdade, o capítulo retrata a loucura em que ficavam os estúdios da gravadora durante as gravações dos discos.

Capítulo 10 - Não Separa! Não separa!


Doenças nunca vem sozinhas, na maioria das vezes elas vem acompanhadas de mal-humor. O décimo capítulo do livro fala sobre isso, sobre o mal-humor e indiferença que atacou Renato quando descobriu ser portador do vírus da AIDS. O título em si faz alusão a um episódio interessante que ocorreu durante as gravações de um dos discos da Legião, quando dois guitarristas de apoio brigaram e Renato não permitiu que fossem separar a briga.

Capítulo 11 - Como é bom estar vivo, né?


O décimo primeiro e último capítulo do livro retrata, de forma mais clara impossível, o auge da AIDS e a morte de Renato. O auge da AIDS é retratado pela depressão, serenidade e até mesmo calma que atingiu Renato, tanto que uma tristeza inexplicável atingiu Renato quando um de seus amigos o perguntou "Como é bom estar vivo, né?". Renato já sentia a morte, que veio a acontecer poucos anos depois.


Quando terminei de ler a biografia de Renato Russo, muitas coisas me deixaram satisfeito com o livro. A construção da história, a sensibilidade com que o autor Arthur Dapieve descrevia Renato, a veracidade dos fatos e, por último, mas não menos importante, a suprema inteligência de Dapieve ao escolher os títulos dos capítulos.
Fica a dica para quem quiser nomear os capítulos de seus livros, use a cabeça!

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