Moleque pequeno, sem vontade de estudar
Cheirando, fumando, injetando, sonhando em ver o mar.
O mar. Sonhando em ver o mar. O mar, o mar, o mar.
Saía pra brincar e voltava machucado.
Por ter coragem de dizer o que pensa, o diziam mal educado.
_Mas que moleque mal educado. Mas que moleque mais mal criado!
Mas ninguém o dizia incompreendido, ninguém o dizia diferente.
Com todos os seus sonhos nada coerentes, o povo o julgava como só mais um demente.
Enquanto os outros brincavam de polícia e ladrão,
Ele brincava só de ladrão.
Mas essa tal brincadeira era tão verdadeira,
Que até saiu na televisão
“Invadiram a loja um moleque pequeno acompanhado de gente grande.
A gente grande assusta e aponta com a arma enquanto o moleque pequeno pega o dinheiro.
A gente grande assusta e atira nas pessoas. “ E, fora da TV, das crianças o moleque caçoa.
_Eu tenho um revólver e um relógio de pulso, e vocês não tem nada disso não.
E no meio de um desses felizes discursos, ele caiu de cara no chão.
Não se sabe se o que mais jorrou foi sangue, surpresa ou dor.
Todas as crianças fugiram como ratos, e pela cidade se espalharam boatos.
E todos ficaram sabendo que o moleque pequeno foi assassinado pelos policiais.
E esse foi o fim do moleque pequeno, que deixou de ser moleque há muito tempo atrás.
O mais triste não é o sangue espalhado no concreto.
Ou o choro das crianças que escorria lerdo.
Muito menos a mãe do moleque pequeno, em seu velório a chorar.
O mais triste é que o moleque pequeno morreu sem ver o mar!
Sem ver o mar!
Sem ver o mar!
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