quarta-feira, 22 de junho de 2011

Davi e Léo - Diálogo na praça.

Lá estavam os dois, andando de mãos dadas na praça. Era a primeira vez que saíam sozinhos, e estavam rezando para que tudo dasse certo.
Davi, de treze anos, andava olhando apaixonado para as garotas de sua idade, e suspirando tristemente ao ver garotos andando de skate o chamando. O pior disso tudo era ter que responder:
_Não posso! Tenho que cuidar do meu irmão caçula.
E Léo, o tal caçula de seis anos de idade, andava sorrindo para pombos, cachorros e mendigos, e fechando a cara quando avistava meninas de sua idade.
Estava tudo até tranquilo, quando um pequeno ronco foi ouvido por Léo, e um alto grito de criança ouvido por Davi:
_Davi, estou com fome!
_Esqueça, não tenho dinheiro!
_Mas eu estou com fome!
_Não tenho dinheiro, Léo. O que você quer que eu faça? Quer que eu roube um banco?
_Um banco, não! Não gosto de bancos, mas você bem que podia roubar um doce.
Davi segurava a mão de Léo com a mão esquerda, e com a mão direita bagunçou os próprios cabelos em um gesto de impaciência.
Em tantas coisas que podia ter dito, resolveu ficar calado.
Alguns minutos se passaram e Léo avistou algo que queria ter avistado há muito tempo.
_Um carrinho de cachorro-quente! - E foi correndo até o carrinho, que era empurrado por uma mulher alta, loura e magra.
_Léo, espera! Isso não é um carrinho de cachorro...  -Mas era tarde demais, Léo já estava encostado no carrinho.
_Moça, eu vou querer dois cachorro-quentes completos no capricho e uma latinha de... - Foi quando Léo viu que aquilo não era um carrinho de cachorro-quentes, e sim um carrinho de bebê ligado a outro, feito para levar bebês gêmeos. Mas ninguém havia explicado isso a Léo. - Ah! Você vende bebês, sua louca!
_ O quê? - A mulher perguntou, sem nada entender.
Davi chegou correndo ao lado do irmão, o puxou pelo braço e disse á moça:
_Desculpa, moça! Ele ainda não foi vacinado! - E sentando com Leo em um banco, começou sua bronca. -  Qual é o seu problema, Léo?
_Meu problema?  Qual o problema daquela mulher?! - E segurando a cabeça do irmão mais velho, Léo disse com cara de drama: - Ela estava vendendo bebês no carrinho de cachorro quente!
_Mas aquilo não é um carrinho de cachorro quente! - Disse Davi, se controlando para não gritar e pagar mico na frente das garotas da praça. - É um carrinho de bebê para gêmeos. Você sabe o que são gêmeos, né?
_É claro que sei, eu sou muito teletual! - Respondeu Léo, pronunciando incorretamente a palavra "ntelectual" e encostando o dedo indicador na cabeça. - Gêmeos são aqueles fantasminhas azuis que aparecem quando o Alladin esfrega a lãmpada!
_Não, esses são gênios!
_Mas "gênios" não é o nome de um planeta?
_Não, esse é Vênus! - Davi já estava ficando impaciente.
_Ah, é... - Léo coçou a cabeça e resolveu perguntar. - Então, o que são gêmeos?
_São duas crianças que nascem da mesma mãe, no mesmo dia, mesmo ano, mesmo mês e ao mesmo tempo! - Foi isso que Davi respondeu, embora soubesse explicar muito melhor.
_E por que isso acontece?
_Se papai dá um beijinho em mamãe, nasce um bebê. Se dá dois beijinhos, nascem gêmeos! - Essa foi a melhor resposta que Davi achou para um garoto de seis anos, e foi motivo de muitas gargalhadas anos mais tarde, com Davi e Léo já adultos.
_Então, acho que somos adotados! - Léo arregalou os olhos.
_Por que?
_Porque eu nunca vi papai.
Davi riu e acariciou a cabeça de Léo:
_Ah, Léo, isso é porque papai morreu quando mamãe estava grávida de você.
Alguns segundos de silêncio e Léo volta a se preocupar:
_Mamãe chorou quando papai morreu?
_Sim. - Davi respondeu brevemente, não gostava de falar sobre aquele assunto.
E Léo começou a chorar. As lágrimas escorrendo por todo seu pequeno corpo, e a boca aberta berrando mais do que um porco sendo esfaqueado, atraindo a atenção de todos que passavam pela praça.
_O que foi, Léo?
_ Se a mamãe chorou quando estava grávida de mim, - Léo ia soluçando enquanto falava. - é por isso que eu sou deste tamanho!
E davi tentava consolar o irmão, que chorava e gritava cada vez mais alto. E todos olhavam para eles, inclusive as garotas que antes estavam sendo alvos dos olhares de Davi.
E devido aquele mico, Davi teve certeza de que aquelas garotas ele nunca iria beijar, namorar, casar e ter gênios...ou Vênus...ou gêmeos...
Ah, não importa! Depois de uma tarde na praça assim, até o narrador tem direito de ficar confuso!

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