sábado, 29 de setembro de 2012

Os fãs do Latino merecem ser zoados.

É incrível como o ser humano tem a habilidade de transformar em bosta praticamente qualquer coisa legal que apareça.
Uma prova dessa nossa tão admirável e repugnante habilidade é um caso que tem sido muito comentado na internet e fora dela.
Para quem não sabe, uma breve explicação.
Há dois meses atrás, foi lançado no youtube o clipe da música "Gangnam Style" de Psy. A música fez um sucesso enorme e logo se tornou um "viral" da internet, com milhares de visualização ao redor do mundo.
Aproveitando-se do sucesso do hit, o famoso cantor brasileiro Latino fez sua versão da música chamado "Despedida de Solteiro". Essa foi a segunda vez que Latino faz uma versão de uma música famosa, a primeira foi "Dança Kuduro".
Aproveitando-se de nova "cópia" de Latino, o vlogueiro Cauê Moura fez uma nova versão da mesma música chamada "Homenagem ao Latino", com uma letra composta de ofensas e piadas sobre a vida de Latino (contendo piadas sobre seus relacionamentos com Mirela e Kelly Key e até sobre a fase em que posou para a revista G Magazine). Para assistir ao vídeo do Cauê Moura (cuja letra foi muito bem construída e pensada), clique aqui.
Então, Latino ameaçou Cauê Moura de processo, dizendo até que seus advogados já estavam tomando conta do caso.
Mas este texto não abordará isso, e sim abordará mais uma versão de Gangnam Style, dessa vez feita por fãs do cantor Latino, ofendendo Cauê Moura, como resposta ao vídeo que Cauê fez "brincando" com Latino.
Obviamente, muitos ficaram do lado de Cauê Moura e passaram a zoar e fazer várias piadas com Latino e seus fãs. No primeiro momento pode-se até pensar que é exagero e falta de ética ofender fãs de alguém, mas, depois de analisar bem é fácil chegar a uma conclusão:
Os fãs de Latino merecem todas essas piadas e zombarias.
A explicação disso vem a seguir, após o vídeo "Homenagem ao Cauê", feito pelos fãs do Latino.


 A letra da versão de Cauê Moura foi bem construída, fazendo piadas certas sobre Latino, pesquisando TUDO sobre a vida do cantor, desde seus relacionamentos com famosas até suas músicas mais famosas, ou seja, Cauê falou sobre o que sabia.
Já os fãs de Latino foram burros, fazendo piadas sobre ideias incertas. E pessoas que fazem isso merecem receber estereótipos e também merecem ser vilipendiados e zoados sem reclamar. Uma prova da falta de inteligência dos fãs autores deste vídeo é a letra da música, que será analisada a seguir.

"Gordo fracassado. Gordo fracassado. Gordo fracassado."
O erro já começa aí. Fracassado? Fracasso, segundo dicionários, é basicamente o contrário de sucesso. E sucesso é algo que Cauê Moura domina. Faz parte do trio de vlogueiros mais famosos do Brasil (PC Siqueira, Felipe Neto e Cauê Moura) com mais de 545083 inscritos em seu canal do Youtube. Fracassado é algo que Cauê Moura não é.

"Quem é Cauê? É nada mais que um manezão.
Latino é atitude, fez o hit do verão.
Latino tem um iate, é o rei das princesinhas.
E você mendiga joinha."

Nada a declarar aqui. Latino não fez o hit do verão. Aliás, a versão de Latino só ganhou grande fama depois da versão do Cauê. O resto deste trecho merece um"e daí?" de todos que não se importam com iates ou "princesinhas".

"Ele pega mulher. E você fica na punheta.
Ele pega mulher. Você é um gordo fracassado.
Ele pega mulher. Só grava vídeo revoltado.
Ele pega mulher. É, pega mulher. "

Praticamente, esse trecho diz que Latino conquista várias mulheres, e Cauê Moura não, sendo que Cauê é um gordo fracassado que grava vídeos revoltados. Novamente, Cauê não está nem perto de ser fracassado, e seus vídeos revoltados são críticas da nossa sociedade imunda. E se Latino pega milhares de mulheres, Cauê Moura tem a sua. Cauê tem uma noiva, mas os fãs criadores deste vídeo não se deram ao luxo de pesquisar.

"Maconheiro. Louva o diabo.
Decepção. Não é cristão.
Desse jeito não vai chegar na televisão.
Mas não vai não!"

Os criadores deste vídeo devem ter lido em algum lugar que Cauê tem um vídeo falando sobre maconha, e nem se deram ao trabalho de assistir ao vídeo (que diz que Cauê nunca usou e nem pretende usar maconha) antes de xingá-lo de maconheiro. Novamente, não se deram ao luxo de pesquisar, assim como não se deram ao luxo de pesquisar que, sendo ateu, Cauê não acredita nem em Deus nem no diabo. Como se pode louvar algo em que não se acredita.
E Cauê está muito bem na internet, ir para a televisão não é uma de suas maiores ambições, ele nem se preocupa com isso, e já deixou isto claro em vários vídeos seus. Mas pesquisar não parece ser uma especialidade dos fãs de Latino.

"Nem vai chegar perto de pegar uma mulher".

Cauê tem uma noiva.

"Latino é veterano. Você é apenas um pivete.
Latino tem carisma, é tão famoso quanto a Ivete."

Cauê, em menos de três anos de fama, conquistou uma legião de fãs maior que a do Latino, que começou sua carreira em 1994. E a parte do "tão famoso quanto a Ivete" é praticamente uma piada. Desde quando Ivete Sangalo é sinônimo de fama?

"Você faz rap tosco com modinha de internet.
Isso é coisa de nerd. "

Esse trecho se refere ao famoso Rap dos Memes, de Cauê Moura,que foi um sucesso instantâneo quando lançado. E ser nerd deixou de ser motivo de vergonha a muito tempo. Na real, ser nerd é até moda atualmente, e criticar nerd virou algo que somente burros e "do contras" fazem. Acho que os fãs do Latino fazem parte do primeiro grupo.

"Ele pega mulher, e faz sucesso na novéla.
Ele pega mulher. Pega três, quatro de uma vez.
Ele pega mulher, ele é aventura e curtição.
Ele pega mulher. É, pega mulher!"

Destaque ao acento em "novela" que o autor da letra acrescentou.

"Todo mundo conhece a festa no apê.
Mas ninguém no mundo sabe
quem é esse tal de Cauê. "

Novamente, o autor da letra usa a fama e o sucesso de Latino para dizer que ele é supostamente melhor que Cauê Moura. Usando uma frase do Cauê Moura é capaz de mostrar que qualquer argumento com isso é falho: Se sucesso fosse talento, a Geisy não existia.

"Latino é mais,
ele faz requebrar geral.
E você é um invejoso.
Sai do mundo virtual!"

Agora surge a pergunta. Por que Cauê Moura teria inveja de Latino? Será que ele inveja as músicas terríveis com letras horríveis e com melodia copiada de outros cantores estrangeiros? Será que ele inveja os relacionamentos fracassados que Latino teve com cantoras brasileiras? Ou então ele inveja o exército de fãs burros que xingam sem pesquisar que Latino tem? É fácil apontar que Cauê é inteligente o suficiente para não ter inveja de nada disso, e sim fazer piada sobre.

Se você é um fã de Latino e se sente ofendido com as piadas recorrentes que estão sendo lançadas a ti recentemente: Cala a boca e aceite o estereótipo. Vocês merecem!


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Por trás da letra de "Sugar" (System of a Down)

Observação: Fui obrigado a escrever o texto com diversas cores para que fosse possível lê-lo, devido a problemas técnicos do blogger.

Hoje, farei uma análise de uma letra complexa. System of a Down é uma banda com inúmeras letras diferentes, controversas, fazendo contraste entre si várias vezes, tornando quase impossível a tarefa de identificar opiniões dos músicos através das letras. Mas não farei uma análise da banda, e sim de uma única letra deles, uma de minhas favoritas: Sugar.
Mesmo sendo uma letra fácil de ser entendida (depois de lida várias vezes), é necessário relaciona-la com o clip da música, pra ver se o entendimento foi correto.
Abaixo, o vídeo com a música e a análise da letra.


Análise da introdução do clip:
O clipe começa com um telejornal iniciando, e um repórter (Eric Olas) dando três notícias.
A primeira : "As forças da NATO bombardearam Sérvia e Kosovo".
A notícia é cortada, e em seguida vem outra notícia: "Um homem não identificado está sendo interrogado pelo FBI por suspeita de ligações ás mortes do mês passado pelo vírus biológico".
E então, essa segunda notícia é cortada para abrir espaço a uma notícia irrelevante : " Um cão chamado Herói leva o prêmio anual..."
O repórter então interrompe a notícia e começa um discurso: Eu gostaria de poder dizer-lhe notícias mais pertinentes, mas estamos em um sistema de classificação aqui, e o fator chave é 'sensacionalismo'. Eles tem que correr em círculos, de 9 a 5 e 5 a 9 ... você é meu! Eu digo o que eles querem que você saiba, e você considera que a verdade. Ninguém está abrindo os seus olhos! Nossa economia global está acabando com o mundo de nossas vidas e recursos naturais! E você está feliz?! Qual é? Eu trabalho para o sistema! "
Claramente, uma crítica a imprensa e ao "sistema" que controla a liberdade de expressão...após isso inicia-se a música.

Abaixo, a execução da música no Rock in Rio do ano passado e a análise da letra a seguir:

As pessoas do chá de cogumelo
sentadas por aí o dia todo...
Quem pode acreditar em você?
Quem pode acreditar em você?
Deixe sua mãe rezar. 
(Açúcar) 2x

Aí começa a crítica a sociedade preconceituosa. As pessoas pensam muito no que a mídia massacra (como drogas) e se esquece de noticiar ou dar atenção a coisas mais importantes, como religião, injustiça do governo etc. A música começa com um tom irônico. "As pessoas do chá de cogumelo sentadas por aí o dia todo" soa como "os drogados ficam o dia todo sem fazer nada, apenas se drogando." Quem pode acreditar em um drogado? Ninguém dá atenção ás opiniões de alguém se ele for um drogado. Mesmo que suas opiniões sejam magníficas e corretas, se ele usar drogas, sua opinião passa a ser desconsiderada.
Esse trecho da música se refere a alguém que usa drogas e é ateu...quem pode acreditar ou dar ouvidos a um drogado? Pare de insistir e deixe sua mãe rezar, ela não vai te ouvir.
Açúcar, um pó branco e doce...relacionado com droga, o que vem a cabeça? Cocaína.


Bem, eu não estou lá o tempo todo, você sabe
Algumas pessoas, algumas pessoas, algumas pessoas,
Chamam isso de loucura. Sim, eles chamam de loucura. (Açúcar)

Nesse momento, o eu-lírico se rende. Ele admite que não está sempre nos locais onde se consomem as drogas, e que pode estar errado em defendê-la. Dando força a essa probabilidade, ele afirma que algumas pessoas chamam isso de loucura.

Eu jogo roleta russa todo dia, um esporte de homem,
com uma bala chamada vida. Sim, mamãe, chamada vida.

Roleta russa é um jogo que consiste em colocar apenas uma bala em uma das câmaras de um revólver e os participantes do jogo dão tiros em sua própria cabeça, até que um deles "acerta" e dispara a bala contra seu próprio crânio, causando assim sua morte.
Este trecho da música é uma metáfora muito bem construída...Assim como na roleta russa o que se teme perder é a bala, no uso de drogas os usuários temem perder sua vida.


Você sabe que toda vez que tento ir,
onde realmente quero estar 
é onde já estou.
Porque já estou lá!

Ele está viciado na droga. Tanto que está sempre drogado, chapado, sempre sob os efeitos da cocaína. Sempre que se droga com a finalidade de sentir os efeitos da droga, ele já está sentindo os efeitos...sempre tenta ir onde já está, de modo que nunca atinge um resultado satisfatório pra si mesmo, de um modo que vai continuar usando a droga até que obtenha o resultado esperado.

As pessoas do chá de cogumelo
sentadas por aí o dia todo...
Quem pode acreditar em você?
Quem pode acreditar em você?
Deixe sua mãe rezar. 
(Açúcar)

Eu peguei uma arma, outro dia, de Soko.
É bonitinha, pequena e cabe bem no meu bolso. 
Sim, cabe no meu bolso. (Açúcar)

Esse trecho dispensa interpretação. É a repetição do refrão da música (já analisado anteriormente), seguido por um relato simples. Soko, uma garota (Ou uma velha, como mostrado no clipe), o deu, ou vendeu, uma arma para que ele possa se defender daqueles que o atacam por ser usuário de drogas.

Minha garota, você sabe, ela se revolta comigo ás vezes.
E eu apenas a chutei. 
E, uuh, cara, ela está bem. (Açúcar)

Ele tem uma namorada que ás vezes o irrita,grita com ele, talvez até o agrida. E como consequência, ele a chutou. Mas não foi nada de mais, ela está bem. Mas ele não faria isso se não fossem os efeitos do  "açúcar" que usa.

As pessoas estão sempre me perseguindo,
tentando jogar minha cara no chão,
onde tudo que eles realmente querem fazer
é sugar a porra do meu cérebro.
Meu cérebro! (Açúcar).

É um desabafo. Ele usa cocaína e tem pensamentos lógicos sobre os mais diversos assuntos. Mas ignoram seus pensamentos e o perseguem por usar a droga, criticando-o e o ofendendo só pelo uso dessa substância química. Ainda se o perseguissem para ajudá-lo ou para oferecer conforto, mas não! Tudo o que eles querem é é humilhá-lo e agredi-lo, até que ele mude seus pensamentos e se torne igual a eles.

As pessoas do chá de cogumelo
sentadas por aí o dia todo...
Quem pode acreditar em você?
Quem pode acreditar em você?
Deixe sua mãe rezar. 

Eu me sento,
no meu quarto solitário.
Sem luzes,
sem música.
Apenas raiva.
Eu matei todos.
Eu estou longe para sempre,
mas estou me sentindo melhor.

Cansado de todas as injustiças cometidas contra si, de todas as pessoas que o perseguiam e o criticavam, ele perdeu a paciência e matou todos os que o julgavam, aniquilou suas preocupações e devastou todos os que o perturbavam. A culpa foi atribuída á droga que ele usa e, graças a isso, foi internado em uma clínica.
Sozinho, em seu quarto sem luzes e música ele se sente solitário, talvez até triste. Está longe de tudo e de todos para sempre, distante da civilização. Mas, entre tudo isso, ele se sente melhor, talvez por ter matado quem o perturbava e talvez por estar longe de novas pessoas que continuariam o perturbando.


Como eu me sinto?
O que eu digo?
Foda-se, tudo se vai.
Como eu me sinto?
O que eu digo?
Foda-se, tudo se vai.
Como eu me sinto?
O que eu digo?
No final tudo se vai.
Como eu me sinto?
O que eu digo?
No final tudo se vai.
Como eu me sinto?
O que eu digo?
No final tudo se vai.
Como eu me sinto?
O que eu digo?
No final tudo se vai
Como eu me sinto?
O que eu digo?
No final tudo se vai.
Como eu me sinto?
O que eu digo?
No final tudo se vai.
No final tudo se vai.
No final tudo se vai.
No final tudo se vai.
No final tudo se vai.

Sim, ele está internado, sozinho, livre de seus problemas. Mas, e o que acontece com seus ideais? Ninguém liga pra tudo que ele pensa? Ninguém liga pra tudo que ele sente? Então ele chega em uma conclusão. Foda-se, no final, tudo se vai. Ele não liga pra nada...no final tudo se vai, tudo vira cinzas, e ninguém se lembrará dele, que foi apenas mais um drogado com ideias sem sentido e sem importância.


quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Sucesso de A Invenção de Hugo Cabret

Uma das obras mais famosas da atualidade (seja em livro ou em sua versão cinematográfica) é "Hugo" (Ou "A Invenção de Hugo Cabret", como é conhecida no Brasil). Aclamada por boa parte da crítica, esta obra é, em minha opinião, ruim, que alcançou sucesso devido a fatores que o escritor (Brian Selznick) incluiu na obra de um jeito sábio. Mas não se engane, não é porque ele foi sábio que tenha feito um trabalho digno... a história foi bem construída, só que mau contada (como uma notícia de jornal mau escrita) . Explicações mais detalhadas sobre as artimanhas que Selznick utilizou para alcançar sucesso com este livro (que é muito ruim) no texto abaixo.



Quando se fala de "Hugo" (que é como chamarei o livro a partir de agora, pois o título é estupidamente enorme), duas coisas precisam ser explicadas... Em primeiro lugar deve ser explicado o motivo do livro ( e a  história em geral, sendo que se tornou filme) ser tão ruim. Logo em seguida deve vir a explicação da obra ter  alcançado tanta fama e aclamação apesar de sua má qualidade.
Então, vamos á qualidade do livro.

Os livros da saga Harry Potter são ótimos, sem discussão e é (embora hajam controvérsias) a melhor série literária da história da literatura. Vários detalhes na construção da história fazem com que Harry Potter seja bom (como o suspense construído, a forma com que os livros coincidem entre si e a inteligência da autora em criar sem erros criaturas e artefatos novos), e o detalhe mais importante de Harry Potter, e de vários outros sucessos literários, é a construção de personagens em que o público se identifica com os indivíduos que compõe a história da obra.
Ao ler um livro, não existe sensação melhor do que encontrar personagens com que você se identifica, seja em questões de personalidade, qualidades ou defeitos...é sempre maravilhoso encontrar um pouco de si mesmo nos personagens que você vai acompanhar e , talvez, apoiar durante o desenvolvimento da trama.
E isso é uma coisa que o "Hugo" tem, sem dúvidas.O livro consegue apresentar-nos personagens que contém características humanas e que deveriam fazer o leitor identificar-se.

Porém, mesmo que uma obra apresente todas as características boas do mundo, existe uma outra pequena característica que pode jogar todo o esforço de tornar a obra uma obra de qualidade no lixo: A forçação de barra!
Mesmo que haja personagens bem construídos, uma trama bem elaborada e uma escrita de qualidade, pode não bastar! Se tudo isso for escrito com pretensão de se tornar bom, ou se o escritor exagerar tentando fazer com que algo fique bom de qualquer jeito, mesmo que se torne algo maçante, o livre pode ficar uma droga! Realmente, uma história que poderia ser boa com naturalidade acaba se tornando um lixo devido a pressão imposta pelo escritor. E é exatamente isso que ocorre em "Hugo".

Selznick (o autor) ficou tão preocupado em transmitir características humanas através das personagens que acabou exagerando e tornando a obra uma ofensa literária aos personagens. O exagero em tornar os personagens semelhantes ás pessoas reais criou personagens bandidos (isso deve ter sido a intenção de Selznick de mostrar que seus personagens são propensos a ter defeitos, assim como as pessoas reais).
Hugo, o personagem principal, mora em uma estação de trem e rouba peças de brinquedos de uma loja com intuito de consertar uma máquina que pertencera a seu pai. Até aí tudo bem, é aceitável um personagem que roube por necessidade, isso até cria uma proximidade entre Hugo e o público que se identificaria com um personagem que ceda as dificuldades que qualquer pessoa normal poderia ter.
Mas a partir daí, a construção do personagem. Hugo não roubava apenas por necessidade. Na verdade, Hugo roubava pela necessidade do autor fazer com que "soasse real"...Hugo era praticamente um cleptomaníaco! Rouba tudo o que vê! Não apenas o que pode ajudar a consertar a máquina, mas também o que vê de diferente, o que vê de bonito, o que vê de brilhante...ou seja, Hugo rouba tudo o que vê! E isso, felizmente, não é uma característica comum. É cleptomania.
E não apenas Hugo é assim, como TODOS os personagens, desde Georges Méliés até Isabelle, são cleptomaníacos e roubam botões, peças de brinquedos, medalhões, anéis, livros etc.
Claramente isso é terrível pois você acaba notando que todos os personagens são cleptomaníacos não por distúrbios que os induziria a serem assim, e sim porque Brian Selznick teve pretensão e exagero suficientes para tornar personagens, com grande potencial de fazer com que o público se identifique, se tornarem personagens com personalidade exagerada e mal construída.


 Agora que ficou clara a razão de "Hugo" ser um livro ruim e mal construído, talvez surja a pergunta : "Mas se é tão ruim assim, como fez tanto sucesso a ponto de virar filme e já ser considerado um clássico da literatura?".
Fácil.
Selznick provavelmente deve ter re-escrito o livro várias vezes (pois todo escritor com bom senso lê e relê seus textos até que chegue a um resultado satisfatório a si mesmo). Não seria exagero dizer que Selznick, em suas primeiras versões da obra, tenha escrito uma história que se passasse em Proença e tivesse como tempo a década de 1990.
Porém, depois de ler sua própria obra, Selznick talvez tenha descoberto que os personagens estavam muito forçados, que tinham sido construídos de forma exagerada. Talvez Selznick tenha percebido o quanto seu livro ficou péssimo e que muito tempo seria gasto para tornar sua obra algo bom. Então, resolveu criar algumas alterações:
Trocou Proença (uma cidade pouco conhecida da França) por Paris ( a mais famosa das cidades francesas, conhecida como a capital do amor) e os anos de 1990 por 1930 (assim tirando o ar de Nirvana da obra, dando um ar clássico de Artie Shaw a obra toda).
Ou seja, devido ao espaço e ao tempo em que a trama se passa, "clássico" foi acrescentado á lista de gêneros de "Hugo", junto com "suspense ruim", "drama ruim" e "aventura ruim".
E, deste jeito, poucos teriam capacidade de perceber a má qualidade da obra, e poucos teriam coragem de dizer que a obra é algo ruim, afinal, quem critica algo considerado clássico? Poucos criticariam The Beatles, poucos criticariam Shakespeare, poucos criticariam até mesmo o nosso samba de raiz (que também é ruim, mas isso já é assunto para outro texto), e, consequentemente, poucos teriam culhões para criticar de forma negativa "A Invenção de Hugo Cabret" e qualquer outra obra que fosse considerada clássica.


Então, de uma forma ou de outra, Brian Selznick (foto acima) é alguém que merece ser ovacionado. Não por ter escrito um livro bom, com personagens bem construídos, história convincente e trama com naturalidade...afinal,isso ele não fez. A salva de palmas que merece ser puxada e direcionada para Selznick é merecida sim, mas não por seus dotes de autor, e sim por seus dotes de bom "publicitário", digamos assim.
Selznick merece homenagens pois , dando seu livro um tom "clássico", conseguiu reconhecimento não merecido entre hipsters, críticos metidos a besta e mídia "caça-clássico"... tipos de público tão ruins quanto a qualidade dos personagens que Selznick criou.

De um jeito ou de outro, Brian Selznick deu uma aula de como fazer um livro ruim ser considerado bom.
Stephenie Meyer  deveria ter seguido esses conceitos ao criar "Crepúsculo" que é ruim e possui má fama.

Enfim, qual a opinião de vocês em relação a "Hugo Cabret" e a qualidade de escrita de Brian Selznick? Deixem sua opinião nos comentários.


sábado, 1 de setembro de 2012

Genialidade, Millôr Fernandes e Shakespeare

"Era um gênio. Uma gênia! Sua genialidade fará falta ao mundo. Um gênio da música. Um gênio da política!"
Essas frases são, sem dúvida nenhuma, as frases mais ditas em todo o mundo quando alguém famoso morre. Tanto faz se esse alguém era muito conhecido. Ninguém se importa se ele era ou não aprovado pela maioria das pessoas. Tudo o que se sabe é que a morte é a maior estratégia de marketing.
Não importa o quanto Michael Jackson, Amy Winehouse ou Cazuza eram mal falados quando vivos. Depois de sua morte, até seus haters mais devotos iriam declamar poemas e lamúrias de sua morte e suspirar :
_Ah, lá se vai um gênio.
Não que eu esteja duvidando da genialidade de Amy Winehouse, Michael Jackson ou Cazuza (muito pelo contrário, eles foram grandes gênios da música de seu tempo), mas algo revoltante é que praticamente um "ninguém" que foi capa de algumas revistas morra e atinja o status de "gênio".
De uma vez por todas : Para ser um gênio não basta morrer. Para ser um gênio você tem que ser ótimo naquilo que faz (não importa qual seja o seu meio, variando desde música até atuação) de acordo com seu tempo, terra natal e feitos.
Deste modo, não podemos considerar Whitney Houston (que foi esquecida depois do filme com Kevin Costner), Wando (que era conhecido como o rei das calcinhas, um título nada notável) e Felipe Boladão (pelo amor de Deus, quem é esse?) gênios apenas por serem famosos (ou nem tão famosos) que vieram a falecer.
Só para fortalecer o argumento : Paul McCartney sempre foi o músico mais importante de The Beatles, sendo o que tocava mais instrumentos, cantava melhor e escrevia mais músicas. Mas John Lennon (que era um músico admirável, mas não melhor que McCartney) é venerado só porque morreu. Enquanto isso, Paul McCartney está vivo e ninguém conhece "My Valentine" e todos conhecem "Imagine".


Esse assunto não é pouco abordado. Muitos já escreveram sobre genialidade falsa, genialidade verdadeira e tudo o mais relacionado á isso. O famoso comediante Bruno Motta já fez um vídeo sobre o assunto, assim como a BBC já realizou um documentário sobre isso e o famoso vlogueiro/blogueiro/podcaster Alexandre "Jovem Nerd" Ottoni já comentou sobre os gênios instantâneos em um podcast .
Devido a existência de tanto conteúdo sobre este tema, muita gente se equivoca ao qualificar um gênio.
Ás vezes alguém realmente genial morre e, por estarmos acostumados com inúteis morrendo e serem superestimados, nem damos importância a morte desse alguém que realmente foi um gênio.
Por exemplo, recentemente, o Brasil perdeu um de seus melhores humoristas, desenhistas, dramaturgos, escritores, tradutores e jornalistas : Millôr Fernandes. Ah, foi nesse tempo em que Millôr deve ter se retorcido no túmulo.
Toda matéria de jornal ou reportagem que fosse publicada sobre Millôr e que se referia a ele como um gênio vinha recheada de comentários de idiotas metidos á intelectuais dizendo:
- Gênio? Gênio onde? Nem famoso era. É só morrer pra ser considerado gênio. Gênio coisíssima nenhuma!
A pessoa que teve a audácia de comentar algo do tipo com certeza nem se preocupou em tentar saber quem foi Millôr. Millôr foi alguém que publicou treze livros de prosa, três de poesia, um de artes visuais, escreveu roteiros para quatorze peças teatrais, criou dez espetáculos musicais e traduziu mais de noventa e três obras para a obra brasileira.
Horas (talvez até dias) podem ser gastos explicando detalhadamente cada aspecto da genialidade de Millôr Fernandes.

Existe uma regra: Não é porque morreu que tem que ser gênio.
Mas esta regra não anula a vericidade desta outra : Não é preciso ser extremamente famoso para ser um gênio. Principalmente no Brasil (um lugar aonde Neymar, Michel Teló e Luan Santana figuram uma lista de melhores brasileiros de todos os tempos), onde os verdadeiros gênios da área literária são ignoradas. É terrível pensar que boa parte da população nunca ouviu falar de Carlos Drummond de Andrade, Luís Fernando Veríssimo e Eça de Queiroz. É tão terrível quanto o fato de que há pessoas que duvidam da genialidade de Millôr Fernandes.
Millôr traduziu livros de Sófocles, Pirandello, Tchekov e também do mundialmente renomado William Shakespeare. Shakespeare foi um gênio?

William Shakespeare é o escritor mais famoso de todos os tempos. Qualquer um que duvidar de sua genialidade pode ser considerado, sem piedade, um burro. Em seu curto tempo de vida (1564-1616) conseguiu conquistar fama mundial como escritor em uma época em que mais de setenta por cento dos ingleses eram analfabetos. Se tornar um escritor ótimo na época em que a Inglaterra era pobre de literatura era uma tarefa tão dura quanto se tornar um político honesto no Brasil. Tarefa difícil, mas Shakespeare provou-a possível.
Até os dias de hoje, Shakespeare ainda vende e faz sucesso absurdo com seus livros mais famosos (Romeu e Julieta, Hamlet, Macbeth etc.) e suas citações mais famosas ( Há mais coisas no céu e na terra, Horácio, do que sonha nossa vã filosofia).
Outra tarefa da qual William Shakespeare pôde se orgulhar é de, segundo estudos, ter inventado mais de mil e setecentas palavras para a língua inglesa (que, com o passar do tempo, passaram a integrar todos os idiomas). Palavras como "solitário, generoso, assassinato e bandido", que são tão usadas em nossa sociedade depressiva, foram criações de Shakespeare.
Na verdade, as palavras criadas foram "lonely, generous, assassination e bandit", no inglês antigo original.
Agora, se Shakespeare é um gênio por, entre outras razões, ter criado palavras... Por que Millôr Fernandes não pode ser considerado um gênio se traduziu palavras inexistentes?

Bem, essa foi a minha opinião. E a sua? Millôr Fernandes e William Shakespeare foram ou não gênios?

Ser ou não ser. Eis a questão.

Eu Quero me Mudar.



Pátria amada,
sonho intenso.
Não tenho nada.
Só tenho medo.

Não sei como posso viver em um país
onde não sou feliz mesmo estando certo.
Não sei como posso viver em um país
onde o que o meu líder teme é o que eu quero.

Nada está bom, tudo é sempre ruim.
Pode servir pra você, mas não serve pra mim.
Eu quero respeito. Mas não tem jeito.
O jeito é melhorar... Eu quero me mudar!

Pode parecer até covardia
fugir da onde nos apossamos um dia.
Mas não dá mais. A terra do índio não muda.
Ninguém olha pra trás. Ninguém se ajuda.

Eu quero me mudar.
Eu quero me mudar.
Civilizados estragaram essa ilha tropical
e eu quero me mudar.

Eu quero me mudar.
Eu quero me mudar.
De uma vez por todas o Brasil não muda
então eu vou me mudar!