sábado, 4 de abril de 2015
Pré-julgamento de Trocando os Pés
Uma das coisas mais erradas de se fazer no ato de julgar um filme é, com certeza, não tê-lo assistido antes de criticar. Mas só por ser errado não significa que as pessoas não façam.
Todos sabem que você fica enojado de tanta melação ao ver o trailer de Cidades de Papel, assim como já até deu nota no IMDB pro Mad Max: Estrada da Fúria.
Uma das coisas que mais ajuda no pré-julgamento de um filme (o famoso pré-conceito) é, claro, o ator principal. E todos sabemos a má fama que Adam Sandler tem entre os cinéfilos.
Trocando os Pés, novo filme estrelado pelo ator, estreia dia 09 de abril de 2015 e seu elenco, produção, roteiro e trailer é o que nos ajuda a ter uma noção do que é que ele vai ser...
Primeiro de tudo - A história.
Na trama apresentada pelo trailer, o protagonista, Max, trabalha como um sapateiro em Nova York e leva uma vida completamente solitária e triste. O que o trailer diz ser "passar os dias resolvendo o problema dos outros" é apenas "passar os dias costurando a sola do sapato alheio" como ganha-pão.
Até que em determinado momento, recebe a chance de adicionar um pouco de emoção em sua vida monótona - Ganha, como herança familiar, uma máquina de costura mágica, que faz com que Max possa assumir a forma de qualquer cliente seu apenas calçando seus sapatos (desde que tenham sido costurados com a tal máquina mágica). Os problemas começam quando Max passa a se atrapalhar e se envolver com a mulher alheia, pegar dinheiro que não lhe pertence e encarnar clientes que já passaram dessa pra melhor. Durante toda a comédia, o maior "ajudante" de Max é o um sábio e vivido barbeiro do qual é amigo, interpretado pelo genial Steve Buscemi, vencedor de Globo de Ouro. E claro, Dustin Hoffman (já não tão em alta) faz participações no filme.
O roteiro chama a atenção, isto é inegável. Como que uma ideia tão criativa, original e única poderia dar errado? Fácil, do mesmo jeito que Click deu.
É tão difícil perceber o quanto que um filme promete ser igual ao outro?
Um protagonista descontente com sua vida profissional e pessoal encontra um objeto mágico que pode o ajudar a realizar mudanças drásticas em sua vida mas que acaba lhe fazendo cometer erros dos quais se arrepende. Tudo isso enquanto é ajudado por um amigo sábio interpretado por um ator renomado e ainda encontra um personagem interpretado por um ator que não está tão em alta.
Basta trocar "sapateiro" por "arquiteto", "máquina de costura" por "controle remoto", "se transformar em pessoas" por "pular partes da vida", Steve Buscemi por Christopher Walken e Dustin Hoffman por David Hasshelhoff . Pronto. Trocando os Pés acabou de se transformar em Click. Sem contar que Michael e Max são até nomes parecidos.
E, se realmente o filme seguir a mesma linha que Click seguiu...as chances de ser um péssimo filme são enormes.
Porém, não façamos deste julgamento apenas uma comparação de um filme já lançado com um do qual, até agora, só vimos o trailer.
Outro fator que colabora para o conceito que estabeleceremos sobre Trocando os Pés: Adam Sandler, o ator protagonista.
Sandler, como quase todo ator americano de comédia, iniciou sua carreira no humor como comediante stand-up (galgando os mesmos passos de Jim Carrey e Chris Rock). Sandler era realmente engraçado como comediante pois tinha liberdade e maturidade em suas piadas, agradando a apenas um público - O público que gosta do humor mente-aberta, sem exageros e inteligente. Em função disso, trabalhou como ator no famoso Saturday Night Live e de lá partiu para estrelar filmes e comédia que não conseguiram manter o que o ator tinha de melhor - A tal da comédia inteligente e com liberdade de brincar com o que bem entendesse, tendo em vista que o público de stand-up e de cinema é bem diferente, infelizmente deixando Adam Sandler pior do que já era.
Assim sendo, pouquíssimos filmes de Sandler podem ganhar o status de bons. Alguns ganham pela qualidade do roteiro, que nos faz esquecer a futilidade das piadas e da atuação batida de canastrão sarcástico de Sandler, como O Paizão, Como Se Fosse a Primeira Vez e Eu os Declaro Marido e Larry. Alguns outros são bons por causa da alteração de tom e do uso de Adam Sandler - Por exemplo, nos filmes Espanglês e Reine Sobre Mim, o ator interpreta personagens dramáticos com fortes veias cômicas que de forma contida e madura conseguem arrancar sorrisos mais naturais e inteligentes do que as gargalhadas que A Herança de Mr. Deeds provoca.
Então, Sandler não é um problema se for usado para piadas que não sejam bobas e/ou forçadas e para um personagem dramático e contido com forte veia cômica. Infelizmente, o trailer nos mostra algo completamente diferente!
No trailer, algumas das piadas (ou momentos com a intenção de serem engraçados) vistas são
- Max se assustando ao se transformar em alguém morto.
- Max colocando a mão dentro de sua calça, ao se transformar em mulher, e descobrir que se trata de um travesti.
- Max dando, por algum motivo, choque em sua própria mão.
Ou seja...uma comédia baseada em gritos, piadas de sexo e personagens sentindo dor. Coisa que vemos com frequência em JackAss e Pânico na Band.
A premissa do filme é bem interessante e, se pudermos dizer, inteligente. Toda a ideia gira em torno da expressão inglesa 'andar nos sapatos de alguém'.
Quando alguém diz que está andando nos sapatos de alguém, significa que esse indivíduo está se pondo no lugar dele, imaginando como é a situação e como seria se fosse consigo mesmo. E o modo como uma expressão linguística se transforma em um roteiro é fascinante.
E essa brincadeira com comédia, filosofia de auto-ajuda e magia bem parece coisa do digníssimo Woody Allen. E quando algo pode ser chamado de "comédia Woody Allen", com certeza vale o ingresso.
Mas não quando apenas promete ser uma "comédia Woody Allen" e mostra ser um humor de grito, sexo e pessoas se dando mal. Woody Allen faz isso, mas faz valer a pena de uma maneira bem sutil.
E outra coisa sobre Adam Sandler - O rosto dele está cada vez menos expressivo, mais triste e deprimente.
Na época de Como Se Fosse A Primeira Vez, ele até que mantinha as aparências de garanhão.
Agora dá só uma olhada em como os anos de má atuação destruíram o coitado.
Quando o ator é ruim, ainda há algumas poucas chances dele conseguir se encaixar no personagem,como por exemplo:
O personagem pode ser um péssimo personagem e, aí sim, o talento do indivíduo (ou a falta de talento) se aplique ao que o diretor almeja para o filme.
Ou então o ator, mesmo sendo ruim, ser cativante e carismático.
Se isso que você vê ao lado é cativante ou carismático...bom, eu não sei o que é constrangedor, bizarro e desconcertante.
Aliás, o próprio pôster do filme também não é dos melhores.
Imagine que a trama do filme promete inteligência mixada a filosofia e comédia pura e leve.
E imagine que o pôster mostre o personagem protagonista calçando um sapato feminino e reafirmando que o que o trailer está prometendo jamais será foco no longa-metragem.
Mas é claro que há sempre uma luz no fim do túnel que pode reviver nossa esperança pelo filme:
Thomas McCarthy, diretor do longa, roteirizou Up - Altas Aventuras. E se houver uma vivalma que venha dizer que Up não é um bom filme, haverá uma gigantesca discussão.
Mas então a tal luz no fim do túnel tremula - Uma pessoa pode sim ser um ótimo roteirista e um diretor ruim. Afinal, o roteiro ruim por ser um diretor bom. Mas um diretor ruim não tem nada a fazer com um roteiro ruim. E, é claro, é triste mencionar que de toda a lista de filme dirigidos por McCarthy, não há um que seja algo além de 'regular'.
A única variável é a de que desta vez o diretor escolheu um ator ruim para trabalhar a seu lado. Das outras vezes, os selecionados foram Peter Dinklage,Richard Jenkins e Paul Giamatti.
Só por Deus, hein!
E por analisar alguns desses pormenores, é fácil concluir o que o trailer grita do começo ao fim - Este filme poderia ter sido bom, se fosse com outro protagonista e se o roteiro realmente se levasse a sério.
E antes que digam - Não, não é cisma com o Adam Sandler. O ator apenas não passa uma impressão boa e a culpa é toda de sua filmografia insatisfatória.
Afinal, Trocando os Pés parece que será apenas mais um filme que parece interessante mas que, no final, será uma comédia forçada.
Como Click, O Rei da Água, Um Faz de Conta que Acontece e muitos outros...
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