sábado, 11 de outubro de 2014

Tim Burton Só Para Baixinhos.


 Continuando o especial de textos para o mês das crianças (mês inteiro de outubro, já que dia 12 é o dia oficial dos pequenos), que tal falar sobre um tipo de filme infantil bem diferente dos outros?
 Os filmes dirigidos por Tim Burton!
 Todo mundo sabe que Tim Burton é um sujeito um tanto quanto estranho (e que, muitas vezes, é bem chato e irritante de ser acompanhado) e conhecido pela bizarrice e caracterização sombria presente em suas produções.
 Deixando de lado filmes "normais" dele como Batman, Sombras da Noite, Planeta dos Macacos, Peixe Grande e Edward Mãos de Tesoura, foquemos nas obras que Burton preparou especialmente para o público composto por crianças
 Mas não pense que é infantil só por ser pra criança. Muito disso é bizarro e, dependendo, até traumatizante.
 Senhoras e senhores, deixem seus filhos com filmes do Tim Burton, nossa babá nada perfeita.




 Para que ninguém pense que Burton ingressou no ramo de animações depois de já ter estabelecido sua carreira, uma surpresa: A primeira produção artística de Timothy William Burton (seu nome de batismo) da qual temos conhecimento é The Island of Doctor Agor (1971), um curta metragem de animação em preto e branco e com pouca perfeição nos traços devido a falta de orçamento. Ou seja, ele já começou pensando no mercado infantil.
 A história era uma adaptação do livro "A Ilha do Dr. Moreau", escrito pelo mestre da ficção científica H.G. Wells, onde há uma ilha onde um vive um cientista fissurado em transformar animais em humanos através de dolorosas cirurgias. E tendo ciência dessa sinopse, também podemos concluir que Tim Burton também já começou apelando para o HORROR em desenhos animados.
 Infelizmente, não há registros do filme na internet.
 Entretanto, a terceira obra que Burton pôs a mão já está mais fácil para que assistamos e também se trata de um desenho animado de proporções assustadoras.


 Em 1979, o creepy diretor ainda se mantinha nas animações com traços de rascunho quando resolveu lançar "Stalk of the Celery Monster", curta de dois minutos onde o consultório de um dentista é macabramente retratado com a imagem do laboratório de um cientista sádico e maluco.
 Eu diria que isso não é pra criança...mas os traços simples e semelhantes aos primeiros curtas da Disney não deixam.
  Todo esse preparo para que em 1982 Burton resolvesse lançar o que seria um de seus melhores curta metragens, perdendo apenas para alguns que serão citados mais pra frente: Vincent!


 Além de ser o filme mais antigo do diretor que podemos considerar "ótimo", Vincent também se destaca por lançar para o mundo duas coisas das quais o nosso querido e maluco diretor jamais largaria:

  • O traço dos personagens de cabelos desgrenhados, olhos grandes e membros finos.
  • O uso constante de stop-motion (Ou animação de brinquedos, marionetes, miniaturas e BONECOS DE MASSINHA DE MODELAR!!, se preferir chamar assim).
 A história é consideravelmente original e curiosa. Vincent Malloy é um rapaz de sete anos fã de Edgar Allan Poe, mestre do terror, e que ás vezes confunde sua realidade com a fantasia assombrosa das coisas que lê. Com sete minutos de duração, o filminho é todo narrado por Vincent Price, ator famoso com voz icônica da época.
 Além disso, é válido lembrar que toda a narração é rimada, levada num ritmo rápido e aterrorizantemente envolvente. Todo o roteiro de Vincent é a adaptação de um poema escrito por Burton. Criando histórias e artes perfeitas para crianças que gostam de levar susto (também não custa nada avisar que logo no começo do curta há um gato que "grita" e assusta qualquer corajoso).


 E depois de fechar parceria com seu traço e o stop-motion em Vincent, Burton iniciou uma nova sociedade com alguém que estaria com ele durante muito tempo: A Disney, com o especial pra tv Hansel and Gretel, adaptação do conto de João e Maria.
 Mas como Burton sempre esteve, de certo modo, á frente de seu tempo, algumas pessoas não conseguiam compreender que toda essa bizarrice fizesse bem pra todos e deixasse as crianças se sentindo confortáveis.
 Ou seja, a Disney DETESTOU o filme, só o exibiu uma vez e o engavetou. Até que a obra foi liberada para exposição em 2009 e....o resultado você vê aqui, em inglês.


 Com um elenco completamente asiático (exceto pela apresentação de, "surpresa!", Vincent Price), o especial da Disney utiliza um cenário fofo e minimalista que contrasta com a agressividade dos atores ruins e do visual medonho da bruxa. Primeiro trabalho de Burton com a Disney que lhe deu nome e, não era de se esperar, má fama.
 Mas ela lhe deu uma segunda chance...e assim veio o seu curta mais lembrado: Frankenweenie, de 1984.


 Sim, foi um sucesso básico.
 Tecnicamente, foi o pontapé inicial para que Burton dissesse "Okay, a partir de agora vou começar com os meus clássicos". Pela primeiríssima vez unindo elementos de terror e sombriedade á carisma cativante e fofuras de animaizinhos meigos, Frankenweenie fala sobre um menino que faz com que seu cachorrinho recém-atropelado volte á vida através de remendos e impulsos elétricos.
 Mesmo sendo um live-action em preto e branco com atores consideravelmente bons (Shelley Duvall, de O Iluminado, é a mãe do garoto), a história ainda é o ponto forte do filme, com apelos infantis e cômicos á todo tempo. Extremamente recomendado.
 E, em 1988, SIM! O primeiro e inesquecível clássico longa-metragem de Tim Burton!


 Os Fantasmas se Divertem é bem diferente dos filmes citados acima. Com o título original de Beetlejuice e Michael Keaton no papel principal, o filme tem um roteiro bem mais complexo do que Burton estava acostumado. Afinal, agora era um longa e...coincidentemente, para crianças.
 O filme fala sobre um casal que morre em um acidente e precisa viver como fantasmas em sua antiga casa durante cinquenta anos. Novas pessoas compram a casa, e então os fantasmas contratam Beetlejuice para afastar os humanos. Afinal, ele é um bio-exorcista, que expulsa humanos ao invés de demônios ou espíritos.
 Depois de faturar milhões em bilheteria com Beetlejuice (filme que realmente está nessa lista sob a dúvida de considerá-lo voltado para o público infantil ou não), Burton apostou nos adultos. E ficou, durante seis filmes, apostando neste público. Mas como não estamos no mês dos adultos, não percamos tempo com estes filmes e pulemos direto para The World of Stainboy.


 The World of Stainboy foi uma série animada de curtas animados produzidos por Burton em parceria com o estúdio de animação Flinch. Talvez seja o desenho com traços mais infantis que Burton já dirigiu...mas também seja o roteiro mais macabro que Burton já escreveu.
 Logo no primeiro episódio, com três minutos de duração, Stainboy usa seus poderes para ARRANCAR os olhos de uma menininha da sua idade.
 Ás vezes,um alívio nos percorre ao lembrarmos que algumas obras não são conhecidas. Porque se já há meninos e meninas que não dormem depois de assistir a Fantástica Fábrica de Chocolate, imagina o que aconteceria se todos conhecessem o assassino entretenimento de The Wolrd of Stainboy.



 E já que foi mencionado, falemos de Willy Wonka, o dono da Fantástica Fábrica de Chocolate.
 Em 1990, Burton iniciou mais uma de suas famosas parcerias - a com Johnny Depp, o maluco de seus filmes, em Edward Mãos de Tesoura.
 Por isso que, lá em 2005, veio A Fantástica Fábrica de Chocolate, primeira parceria Burton-Depp voltada para o público infantil.
 O filme trata de uma enorme e famosa empresa de chocolates  que realiza um sorteio. Cinco bilhetes dourados depositados em barras de chocolate por todo o mundo dão a oportunidade de crianças conhecerem o interior da fábrica e seu excêntrico dono, Willy Wonka (Depp).
 Trama original para ser adaptada ao cinema...se não fosse um remake. Em 1971, um filme com Gene Wilder no papel de Wonka já havia sido feito. Com o mesmo teor psicodélico, animado e exótico de seu remake. Ou seja, de interessante apenas Depp interpretando para crianças...pois Burton não inovou e ainda irritou muitos fãs do original. Remake bom ou ruim, sempre gera bafafá.
 Só que, tecnicamente, A Fantástica Fábrica de Chocolate, por mais infantil que seja, não é bem um filme em que notemos a mão de Tim Burton. Afinal, onde estão os mortos? As canções horripilantes? E, pra quem tinha gostado tanto de Vincent, onde está a massinha?
 E, no mesmo ano, Burton compensou com um de seus maiores sucessos (de qualidade também duvidosa) - A Noiva Cadáver.


 União de todas as paixões de Burton - Animação, stop-motion, Johnny Depp, coisas mortas, musicais e Helena Bonham Carter, que além de sua atriz favorita também é sua esposa.
 A história é a seguinte: Em uma vila europeia, Victor está prestes a se casar com uma bela moça quando, acidentalmente, enfia sua aliança no dedo de uma mulher morta e se vê casado com ela. Ao conhecer o Mundo dos Mortos com ela, percebe que a vida de vivo não é tão divertida assim.
 O jeito dos personagens é a única coisa que chega a incomodar. Todos tão indiferentes, como se tudo fosse tão natural. E sinceramente, não é. Para nenhum dos lados. O rapaz vivo deveria estar em estado de choque por estar conhecendo a vida dos mortos. E a sociedade cadáver, caso houvesse uma reação sensata, deveria estar amedrontada por ter seu universo invadido por um corpo de coração que bate.
 Fora isso, as músicas são assombrosas e a arte é gélida e cativante. Ou seja, Tim Burton, missão cumprida!
 Depois disso, mais uma vez Burton se dedicou a seus filmes adultos. Até que em 2010...
 Como se não bastasse já ter mexido em um clássico, resolveu voltar a se envolver com a Disney e mexer com um de seus clássicos.
 E tivemos Alice no País das Maravilhas, com Depp de Chapeleiro Louco.


 Uma coisa foi quando Burton se meteu com A Fantástica Fábrica de Chocolate e manteve o ritmo animado, alto-astral, colorido e empolgante do filme original. Afinal, isso é quase que uma atualização do filme com maior tecnologia.
 Mas em "Alice", ele perdeu a cabeça.
  Pegou o clássico psicodélico e colorido clássico 2D da Disney e transformou numa versão 3D  e drogada de Melancolia do Lars Von Trier. Acabou o ânimo, acabou a ingenuidade da protagonista, acabou a cor e o carisma dos personagens... Todos eles tão medo. O Chapeleiro que tinha a aparência dócil e eufórica, agora parece um mendigo cheio de maquiagem.
 E, finalmente, o último filme infantil que Burton fez...e que também é estranhamente um de seus primeiros filmes.
 Frankenweenie (2012), o longa-metragem!


 Uma animação? Sim. Stop-motion? Sim. Preto e branco? Sim. Tenebrosa? Sim. Com morte e ressurreição? Sim. Fofo? Sim. Uma versão longa do curta que o diretor tinha produzido em 1984? Sim. Tim Burton? Óbvio!
 Burton realmente tem um apreço enorme por seu curta Frankenweenie, o que justifica o quanto se esforçou nessa adaptação dele. A arte é perfeita, a trama é completa e o resultado seria divino se não fosse tão macabro.
 A criançada adoraria. Animações sobre cãezinhos sempre agradam, mesmo que eles estejam mortos.
 E essa, até agora, é a filmografia infantil completa de Tim Burton.
  Só não pense que esse texto vai acabar assim!

 Se você conhece o Burton, cinema infantil ou cinema sinistro...deve estar, inevitavelmente, sentindo a falta de um filme específico.
 Sabemos qual filme é esse e sabemos o porquê dele não ter sido mencionado. A verdade é que esse filme não é do Burton! Sabia?
 É de alguém com um talento muito parecido com o dele.



Henry Selick.
 Sim. O Estranho Mundo de Jack não é de Tim Burton, e sim de Henry Selick. Burton roteirizou e ajudou na produção...mas na direção quem assina é Selick, diretor tão bom quanto Burton (ou até melhor, se considerarmos que seus filmes não são tão parecidos uns com os outros).
 Selick é um assunto indispensável quando falamos de Burton e seus filmes infantis, pois o estilo é tão semelhante que os dois muitas vezes tem filmes confundidos.
 O Estranho Mundo de Jack, Coraline e James e o Pêssego Gigante. Essas são as obras primas de Selick.
 Considerando que um deles fala sobre o Rei da Cidade do Halloween querendo roubar o Natal para sua Terra, outro fala sobre um menino maltratado que foge para um universo dentro de um pêssego e outro sobre uma menina infeliz que busca conforto em um mundo onde há um monstro com olhos de botões que devora almas e se alimenta do carinho de crianças...não é fácil dizer que a criança que se divertir com os diversos filmes citados neste texto, também vão se divertir com a filmografia de Henry Selick.
 Mas é óbvio que a indicação maior para essas crianças continua sendo o mestre desse ambiente infantil porém assustadoramente doentio.
 Tim Burton, rei da morte fofa.

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