sábado, 9 de fevereiro de 2013

Crítica Literária - Quatro Num Fusca


Hoje em dia é praticamente proibido criticar negativamente qualquer artista ou personalidade que seja considerado um clássico. Falar mal de uma música do Nirvana (mesmo que seja a ridícula Beans) ou ridicularizar algum filme de Schwarzenegger (mesmo que seja o terrível Hercules In New York) é pedir para ser criticado e correr o risco de ser tachado de "sem cultura" ou "pessoa que não sabe apreciar a boa arte".
Bem, todos cometem erros, até os mais talentosos artistas. Renato Russo tinha um grande ego, Cazuza usava drogas, e Freddie Mercury fazia de tudo por um holofote.
Então, Esdras do Nascimento, clássico escritor de novelas, contos e romances brasileiros, não fica de fora disso, tendo um livro que pode muito bem ser analisado e criticado, sem nenhuma amenização por ser um escritor clássico. Afinal, existem livros ruins em todas as épocas, e escritos por todos os tipos de pessoas.


Quando se compra um livro sem nunca ter ouvido falar nele, é bem fácil citar os três motivos pelos quais você provavelmente comprou o livro:
1 - A capa te chamou a atenção.
2 - O título te chamou a atenção
3 - Você leu a sinopse e se interessou.

Se não forem esses, não existem outros motivos para ler Quatro Num Fusca, exatamente por não ser um livro famoso (e nem um dos mais conhecidos entre as obras de Esdras).
Mas isso não é defeito nenhum, até porque nenhum livro tem obrigação de ser famoso para ser considerado bom. O problema é que este livro não cumpre o que sua capa promete.
Começando pelo título, que não é nada fiel a história.
Na história do livro, o Professor Lauro organiza uma viagem em família, aonde eles vão do Rio de Janeiro ao Ceará todos metidos num fusca. E dessa viagem participam o Professor Lauro (pai), Ana Maria (mãe), Dinha (filho mais velho), Daniel (filho do meio), Andrea (filha mais nova) e Marcelo (Um menino amigo da família). Durante todo o livro, esses são os únicos personagens fixos e que apresentam algum tipo de importância na trama.
Mas tudo é uma questão de matemática até que se perceba o erro. Lauro, Ana Maria, Dinha, Daniel, Andrea e Marcelo...seis personagens viajando dentro de um fusca. O livro se chama "quatro num fusca". Ou  Esdras é terrível em matemática ou ele apenas achou que "quatro num fusca" soaria melhor do que "seis num fusca". Mas não importa o que soa melhor,o que importa é a fidelidade de um título com seu respectivo livro.
                                                                   ... ... ...

Seguindo a linha de raciocínio em que "Quatro Num Fusca" engana seu leitor, devemos analisar a história.
Na sinopse encontrada na contracapa do livro, a trama é descrita como uma aventura dinâmica que se passa durante uma viagem de fusca até o Ceará, e que também possui um constante clima de ação. Isso é mentira!
Boa parte da trama se passa dentro do fusca, com conversas que não levam a lugar nenhum e não servem de nada a não ser para ocupar espaço em algumas páginas.
A falta da ação e aventura mencionadas no livro fazem com que a leitura seja cansativa e algo que o leito tente evitar, fazendo com que o livro leve dias para ser lido, mesmo que tenha apenas cento e vinte páginas.
Em um dos primeiros capítulos,o autor parece apresentar a primeira coisa interessante em toda a trama:
As crianças mencionam que talvez possam investigar o Ceará quando chegarem lá em busca de Tarzan, que estaria morando nas "selvas" de lá.
Isso é algo que dá uma atmosfera meio "Monteiro Lobato" ao enredo, tornando o livro mais interessante e proporcionando ao leitor um tanto de esperança em relação a possíveis (?) melhorias em "Quatro Num Fusca".
Mas o Tarzan cearense e toda a busca por ele foram esquecidos! Mencionados em um único capítulo e depois abandonado, nem depois de chegar no Ceará as crianças pensaram em procurar pelo Tarzan, algo que deveria ter sido pelo menos mencionado ao decorrer da história. Esdras do Nascimento conseguiu escrever um enredo sem atrativo nenhum e ainda matou o primeiro e único indício de que a história poderia dar certo.


Mas se "Quatro Num Fusca" fracassa totalmente como ficção, ele se salva exercendo sua segunda função com certa maestria : Cartão postal.
O que a construção da trama de Quatro Num Fusca tem de pobre, a "função cartão postal" da obra tem de rica. É muito difícil decorar os nomes dos poucos personagens apresentados no livro, porém, depois de lido duas ou três vezes, a obra começa a te fazer entender melhor a geografia brasileira e ainda te dar vontade de ir viajar para o Ceará ou para qualquer outro canto pelo qual a família passa em sua viagem.
Quatro Num Fusca pode servir muito bem como um mapa ou um guia-de-bolso do sertão brasileiro, mas fracassa miseravelmente como ficção, de modo que a impressão que fica é que Esdras do Nascimento não escreveu uma história e sim uma poesia de cartão postal que ultrapassou o limite de linhas e só pôde ser publicada como livro, e na categoria ficção.

Concluindo, se estiver procurando um livro de ficção que narre uma viagem em que você, leitor, possa se divertir e passar o tempo...não leia Quatro Num Fusca pois não é isso que você procura. Leia "Viagem Ao Centro da Terra", "Emília no País da Gramática" ou, se você prefere livros fantasiosos, procure ler as sagas "As Crônicas de Nárnia" e "Percy Jackson e Os Olimpianos".
Mas se quiser uma ajudinha nas aulas de geografia (o que é bem provável, já que é muito raro algum jovem dizer que é bom em geografia), talvez "Quatro Num Fusca" possa te ajudar. Mas nem pense em se divertir enquanto estuda, pois, se envolve este livro, é uma expectativa falsa.

Nota 2 para o livro.

Um comentário: