sábado, 15 de dezembro de 2012

J.R.R. Tolkien pode ser cansativo. Por que?

Em primeiro lugar, fique claro que este texto não tem como função, de maneira nenhuma, ofender ou menosprezar a obra de Tolkien.
Tolkien com certeza criou uma das melhores sagas (se não a melhor) literárias, e também inspirou a melhor trilogia de toda a história do cinema (vencendo Poderoso Chefão, De Volta Para o Futuro e até Batman).
Toda e qualquer obra produzida por Tolkien (trilogia LOTR, livro O Hobbit, Silmarillion, entre outros) ou baseada no legado de Tolkien (filmes de Peter Jackson, jogos de videogame e RPGs de LOTR) são nota 10 em quesito ficção, aventura, construção de personagens e concordância.
Porém, ao ler as obras principais de Tolkien (trilogia Senhor dos Anéis e O Hobbit), facilmente se encontra , além de emoção e as melhores batalhas de toda a literatura mundial, o fácil cansaço.
Entenda o motivo disso com exemplos utilizando duas sagas também aclamadas e famosas ("Harry Potter" e "Percy Jackson e Os Olimpianos").
Antes de qualquer mimimi/reclamação de fãs nos comentários deste texto, deve ficar claro que as sagas também consagradas "Game of Thrones", "Jogos Vorazes", "Crepúsculo" e "As Crônicas de Nárnia" não foram incluídas nos exemplos porque eu, Raphael Guimarães, autor do artigo, nunca me interessei profundamente pela saga (no caso de Nárnia) ou nunca a li (no caso das outras).


Hoje em dia, no finalzinho de 2012, existem duas coisas que entraram na moda e caíram no gosto do povão :    A cultura nerd e a cultura japonesa que, por vezes, acabam se encontrando.
A cultura japonesa caiu na graça do povo brasileiro principalmente por intermédio de duas artes que se tornaram populares - Os mangás e os animes.
Mangás, pra quem não sabe, são os famosos gibis japoneses, em preto e branco e que são lidos de trás pra frente. Exemplos famosos de mangá são Dragon Ball Z, Naruto e Bleach. E animes são, quase sempre, obras animadas com sua história baseada em algum mangá (jamais diga que "anime" é "desenho japonês" ou um dito otaku te trucidará). Exemplos famosos de anime são também Dragon Ball Z, Naruto e Bleach.
Na maioria das vezes, o anime é lançado mais frequentemente que o mangá, de forma que um único episódio do anime possa representar até quatro edições do mangá.
Sendo assim, ás vezes o mangá precisa de um certo tempo para que consiga alcançar o anime...assim os desenvolvedores do anime criam episódios chamados "filler", onde a história principal do episódio não existe no mangá e não tem uma ligação muito forte com o enredo principal do anime, embora se utilize do mesmo universo e personagens.
O filler é utilizado para que não seja necessária a enrolação dentro do anime, fazendo com que a obra não seja algo cansativo.

Ok, mas o que isso tem a ver com Tolkien, Harry Potter ou Percy Jackson, que, a princípio, eram o tema principal do artigo?
Simples.
Assim como nos animes, os escritores de determinadas franquias/sagas/séries precisam criar arcos ou capítulos que contem uma história paralela ao enredo principal da trama.
Se um determinado escritor se motiva a escrever um livro que passe das trezentas páginas mas só possui material e história o suficiente para duzentas, ele pode usar de seus "fillers" para preencher esse espaço em vazio. E isso é usado pra caramba em sagas famosas. A seguir, exemplos.

Harry Potter

O enredo principal da saga Harry Potter se baseia na enorme batalha de Harry (e companhia) contra Voldemort ( e companhia). Essa batalha vai se intensificando a cada livro, tornando a saga cada vez menos infantil e cada vez mais séria, tornando-a uma saga mais adulta e tensa.
Os dois primeiros livros, que não exigem muita seriedade ou muitas páginas para que a história fique clara, são simples, com poucas páginas (224 e 256).
A partir dos dois primeiros livros, Rowling (a autora) passa a precisar de mais capítulos, mais páginas...e a história não tem como ser encolhida, então Rowling cria os "fillers" que, nesta saga, são os jogos de Quadribol que, sabiamente, não tem, em sua maioria, uma ligação muito forte com a trama principal de modo que não fará grande diferença se o capítulo for pulado...mas não faça isso, pois Rowling produz o melhor tipo de filler - O filler que diverte.

Percy Jackson e os Olimpianos

Observação: É, de certa forma, óbvio que o pequeno sucesso de Percy Jackson não é nem comparável aos sucessos de estrondosos da obra de Tolkien e da saga Harry Potter, mas foi a saga escolhida para servir como segundo exemplo devido a "fillers" mais presentes e facilmente localizáveis nessa saga.
Toda a história da saga "Percy Jackson e os Olimpianos" se baseia no semi-deus Percy junto com seus amigos do Acampamento Meio-Sangue tentando impedir que Cronos volte das profundezas do Tártaro e tentando impedir que ele conclua sua vingança mesmo sem voltar. Ou seja, está definida. Este é o enredo principal.
Mas esse enredo não é o suficiente para completar o livro...é preciso mais páginas tanto para deixar o livro maior e com mais cara  de "saga" quanto pra que a história não caia no repeteco e fuja um pouco do rotineiro "impedir a vingança de Cronos".
No caso de Percy Jackson, o "filler" utilizado são as atividades e competições entre semi-deuses dentro do próprio Acampamento Meio-Sangue...e, diferente dos fillers de Quadribol em Harry Potter, não é aconselhável que se pulem os capítulos assim em Percy Jackson...pois dentro deles haverão sempre pequenos parágrafos frisando acontecimentos passados que são importantes que sejam decorados para o entendimento total da trama.

Enfim, Tolkien.
É impossível resumir em poucas linhas a história de Senhor dos Anéis ou a de O Hobbit como foi feito com Harry Potter e Percy Jackson, trechos acima.
Tolkien escreve muito bem e tem a sorte, ou puro talento, de escrever sem se contradizer...sempre com suas  mesmas versões de anões, elfos, hobbits, trolls, goblins e magos.
Porém, em meio a tanta magia, adrenalina, aventura e monstros gigantes lutando contra hobbits indefesos....Tolkien tem uma falha.
Em alguns momentos Tolkien precisa de páginas, precisa de capítulos maiores e também precisa atrair mais diversão ao livro para fugir um pouco do costumeiro enredo.
E o que ele faz? Ele cria atividades entre os personagens para criar um filler do estilo de Rick Riordan? Não.
Ele cria esportes ou competições para criar um filler do estilo de J.K. Rowling? Não.
Ele simplesmente narra...descreve o cenário, chegando a gastar várias linhas apenas falando da espessura dos troncos das árvores, da beleza dos lagos ou do quanto a névoa estava densa naquela manhã na Terra Média.
Sim, é uma boa maneira de ocupar espaço sem atrapalhar o enredo...mas pode irritar...e cansar o leitor. Essa escrita arrastada cheia de descrição não é muito necessária e é cansativa pois, em três livros de Senhor dos Anéis, com seis capítulos de descrição cada um...nada é mais dispensável do que descrições do cenário.

Observação: Tolkien é o rei de toda a literatura ficcional...desenvolvedor de boa parte das criaturas como as conhecemos hoje, ele é o pai de toda e qualquer obra de fantasia. Porém, ás vezes se empolga nas descrições e esquece do uso de fillers, tornando a leitura de seus livros, além de empolgante e maravilhosa, um tanto quanto cansativa.

E você? Concorda? Deixe sua opinião nos comentários.

Um comentário:

  1. Eu comecei agora a ler as obras do tolkien, e concordo nesse ponto sobre ser cansativo a descrição de cenário além de uma história saturada demais (personagens e lugares demais em contos passados)

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