quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O Lamentável Destino de Júpiter


 Desde o final dos anos 90 que os irmãos Wachowski tentam emplacar sucesso e fazer nome como grandes diretores. Mas não dá. Simplesmente não dá.
 Eles conseguiram, em Matrix, usar todo o talento que tinham disponível. Claro, isso foi bom porque nos presenteou com um dos melhores filmes de ficção científica de todos os tempos. Mas também foi péssimo, pois nos obrigou a assistir mais vários filmes péssimos dos mesmos diretores, que só lembramos o nome porque é um nome bonito e porque...um deles trocou de sexo nesse meio-tempo.
 As sequências de Matrix, A Viagem, Speed Racer...nada que veio deles agradou. Cada um de seus serviços apenas tem a utilidade de mostrar o quanto Matrix foi um golpe de sorte.
 Então, pra essa lista, acaba de entrar o mais novo filme dos irmãos - O Destino de Júpiter, aventura de fantasia e sci-fi extremamente cafona e mal feita.
 Afinal, todo ano precisa de um filme que logo no começo mostra ser uma enorme besteira cômica.



  Antes de tudo, vem a história do filme. Junto com a sinopse, uma decepção - O título é uma farsa!
 Em 1990, Paul Verhoeven se aventurou e dirigiu O Vingador do Futuro, filme com cenas em Marte e ousou em dirigir uma história futurística que se passasse em um planeta do nosso Sistema Solar ao invés de ter que inventar um próprio. O título "O Destino de Júpiter" prometeu repetir esta fórmula e finalmente utilizar um planeta que só foi mencionado, na cultura pop, por Chapolin Colorado. Vamos todos animados ao cinema para ver aliens e aventuras em Júpiter, certo? Errado!
 O filme pouco tem a ver com o planeta. Apenas o fato de ser o maior planeta do Sistema Solar e motivar o pai cientista a dar o nome do planeta a sua filha. Então, sim. Júpiter é apenas o nome da personagem protagonista. "O Destino de Júpiter" é, na verdade, "O Destino de Mila Kunis".
 Júpiter (além de possuir um nome masculino e ser homônima de Zeus, pais dos deuses e dos homens) mora com a mãe e boa parte da família russa nos EUA, trabalhando como empregada doméstica. Apaixonada por astronomia, a garota entra, com o primo, em um esquema que vai lhe dar apenas cinco mil dólares (e, desses cinco, utilizará quatro para comprar um telescópio) - Vender seus óvulos.
 Afinal, de nada lhe seriam úteis esses óvulos. Júpiter nunca se apaixonara e nunca tivera alguém em sua vida pois nem nesse assunto honrava o nome que recebera.
 Pois durante determinada cirurgia, pequenos alienígenas a atacam...e outro a salva.
 Assim nos é apresentado Caine Wise, o personagem de Channing Tatum.


 Caine é uma mistura genética de lobos com terráqueos e por isso possui tal exótica aparência. Justo com os cabelos loiros tingidos como os de Ted Mosby  ele traz para Júpiter a notícia de que ela é a reencarnação da rainha Abrasax, mulher de noventa milênios de idade que possuía três filhos e um grande tesouro - o planeta Terra. Ou seja, cabe a Júpiter impedir que nenhum de "seus" filhos tomem posse da Terra e façam dela o que bem entender.
 Realmente é um desafio fazer com que uma história assim desse certo. Astronomia casando com reencarnação? São raríssimas as ocasiões em que ciência e assuntos mais místicos como religião ficam bons ao serem misturados assim. Parece tudo combinado.
 Por que que a tal rainha foi ser assassinada com noventa mil anos de idade? Quem quer que fosse o assassino, ele com certeza teria tempo pra pensar nisso antes. Pelo menos uns quarenta mil anos de antecedência (afinal, neste Universo a idade adulta é alcançada em algo perto de treze ou quatorze milênios). E mesmo assim, porque teria que reencarnar justamente em uma terráquea qualquer da Terra? E que reencarnação é essa que acontece quando alguém morre e reencarna imediatamente em alguém que já está vivo? Mas tudo bem, essas questões são místicas e não precisam de argumento. Mas é realmente estranho que um filme dos mesmos criadores de Matrix seja tão sem propósito.


 Mas tudo bem. Uma ou outra falha no roteiro é relevável se os personagens compensarem em personalidade. Afinal, não é toda a política de Star Wars que o fez ser aceito, e sim a maldade de Darth Vader e o estilo arrojado de Han Solo.
 Mas, por falar em personalidade, onde está a de Mila Kunis? A atriz já mostrou que sabe ser cativante em Livro de Eli, Amizade Colorida e até na série de tv That 70's Show. Só que alguma coisa aconteceu e, de repente, ela perdeu todas as expressões faciais.
 Quando temos um filme cujo gênero não é romântico e possui uma mulher como protagonista, espera-se que seja uma personagem feminina forte e que honre o posto de protagonista. Júpiter não é nada disso. A coitada passa de doméstica a rainha com uma naturalidade no rosto que beira a tédio e incompreensão. Ao invés de se espantar com qualquer coisa (como a existência de vida em outro planeta ou reencarnação de seres milenares que usam um planeta como herança) ela apenas pergunta "Como funcionam essa botas voadoras?", artefato utilizado em quase todas os obras com aparelhos futuristas.
 Se você descobre, de uma hora pra outra, que é dona da Terra, como reagiria? Assustado com a responsabilidade ou animado com o poder que possui. Aí é que Júpiter mostra o quanto é diferente de qualquer ser humano, o que talvez justifique seu nome bizarro - A garota passa o filme todo com uma paixonite irracional, instantânea, desnecessária e ridícula pra cima de Caine Wise. Claro, ela é realeza e ele é soldado...e ele até tenta a lembrar disso. Porém, Júpiter o responde com a frase mais ridícula, engraçada e penosa do filme.
 - Eu tenho mais em comum com um cachorro do que com você.
 - Eu sempre gostei de cachorros. Eu amo um cachorrinho. 
 Claro, foi o suficiente para que a internet começasse a adorar a ideia do romance dos dois e produzir montagens aos montes sem se lembrar do mais importante : NÃO É CERTO FICAR PENSANDO EM HOMEM QUANDO VOCÊ ACABA DE DESCOBRIR QUE É DONA DO PLANETA TERRA E PRECISA RESOLVER UMA TRETA ENTRE TRÊS FILHOS SEUS QUE SÃO MAIS VELHOS QUE VOCÊ!
 Sem mencionar que Júpiter não demonstra nenhuma autossuficiência já que leva tombos a todo momento e sempre tem o bonitão do Caine pra segurá-la em seus braços fortes e observá-la com seu rosto de Amaterasu.
 Mas tudo bem, se o filme não tem um protagonista que preste é sempre legal recorrer aos vilões.


 Devido a completa insignificância e falta de ameaça que os outros dois irmãos representavam, sobra para Balem Abrasax o papel de vilão. E infelizmente, o cumpre muito mal.
 Interpretado por Eddie Redmayne (ator que está concorrendo ao Oscar de melhor ator por Por Toda a Minha Vida do Stephen Hawking A Teoria de Tudo), Balem tinha até que certo potencial para ser um vilão épico e se tornar o novo fetiche das meninas depois de Tom Hiddleston e Benedict Cumberbatch. Balem foi uma tentativa falha de recriar o sucesso de Loki (dos Vingadores, Thor e Thor 2). Seria uma pena se as únicas características aproveitadas de Loki em Balem fossem:

  • As cenas em que Loki escandaliza e chora.
  • O jeito afeminado e elegante
  • Os problemas psicológicos causados pela mãe a frase "Você não é minha mãe!"
 Em suma, Balem passa o filme todo chorando, gaguejando, tremendo e querendo parecer vilão quando, na verdade, não assusta ninguém.
 Um vilão assim tão fraco só consegue se sustentar em uma ocasião - Quando há algum outro vilão mais poderoso por trás dele. Exemplo? Quirrel e Voldemort, em Harry Potter e a Pedra Filosofal.
 Porém, nenhum de nós quer algo maior por trás de Balem. Afinal, pra quê puxar sequência disso, né?
  Não há um único personagem que salve. O roteiro também não salva. Sobram duas coisas - O visual e a tecnologia.



É até estranho pensar que um filme de visual tão fora de tom esteja nas mãos da Lana Wachowski. Ela tem um estilo próprio e agradável aos olhos. Já o visual de seus filmes não agrada em nada.
 Destino de Júpiter possui péssimos figurinos e terríveis maquiagens para os alienígenas.
 Além do cabelo mal tingido de Channing Tatum, os olhos estranhamente encantadores de Sean Benn e o vestido florido de Júpiter...o filme resolve nos surpreender com um desnecessário, bizarro, feio e perturbador alienígena com cara de elefante.
 E isso é apenas uma das infinitas bizarrices.


 A questão que, desde Speed Racer, não quer calar é - Se o único filme bom dos Wachowski é Matrix (que tem todo o seu visual em tons de preto e verde), por que eles continuam tentando fazer filmes em que fusões de arco-íris e psicodelia predominam?
 A roupinha de couro da Trinity era tão bonita e funcional...por que o vestido de casamento de Júpiter precisa ser assim florido como um cospobre da Princesa Amidala?


 E sobre a tecnologia vale sempre mencionar o uso do 3D.
 Fui ver o filme com minha namorada no cinema e nós dois estávamos com os óculos. No
meio do filme, um homem sentado ao lado nota que estamos com os óculos e pergunta "Esse filme é 3D? É que tá normal."
 E ele realmente estava certo. O filme possui excelentes efeitos especiais e a computação gráfica utilizada nas naves espaciais e em suas lutas é incrível. Claro que poderia ter sido gasto mais dinheiro nas coreografias das lutas físicas do que nesses guerras aéreas desnecessárias, mas os efeitos são bem feitos (mesmo que rápidos e incompreendíveis) e coerentes. Porém, não tem 3D no filme!
 Em certas cenas até há a oportunidade dele ser usado, como quando Caine dispara um tiro na direção da tela. Mas não. Nada. O 3D é ignorado e o tiro fica fora de foco.
 O uso do recurso tridimensional só é realmente notado em duas cenas:

  • A cena da abdução, onde partículas de 'nada' pairam próximas a cabeça do espectador.
  • E a cena das abelhas voando, quando enxames pairam próximos a cabeça do espectador.
 Ou seja, nada de relevante.

 Portanto, não permita que nenhum dos atrativos do trailer de Destino de Júpiter te leve ao cinema.
 A atuação é fraca. A ação é decepcionante. Os personagens não tem carisma. O cenário é cafona e o 3D não é utilizado.
 Tudo isso só pega carona no sucesso que Guardiões da Galáxia e Star Wars fizeram, copiando apenas os aliens bizarros mas sem compensar com roteiro ou personagens satisfatórios.
 As poucas funções do filme são avisar pra Warner não produzir mais nada dos Wachowski e mostrar pros fãs de quadrinhos que Channing Tatum realmente não pode ser o Gambit.
 Ah, e também não deixe a campanha de publicidade da Warner te levar ao cinema apenas para matar uma dúvida besta sobre Sean Bean.


 Afinal, a resposta pra essa pergunta é "Não".

3 comentários:

  1. Estou louca para ver esse filme *.*

    Adorei o seu blog e já estou a seguir :)

    beijos,
    Daniela RC
    Blog: Doce Sonhadora

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    Respostas
    1. Obrigado, Daniela. Recomendo que veja o filme...todos deveriam ter essa experiência pra criar anti-corpus pra filme ruim kkk.

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  2. Babaca imbecil. Não tem inteligência para entender a mensagem do filme. Vai morrer manipulado pela Matrix

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