quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Títulos, capítulos e Spiderwick.

Como mencionado no primeiro texto neste formato (que se referia á biografia "Renato Russo - O Trovador Solitário"), os capítulos de uma obra são peça importante na hora de notar a genialidade de um autor. E isto não é apenas durante a leitura do "recheio" dos capítulos, pois aí já seria a análise da história em si, e sim no título dos capítulos.
Como sempre é preciso um título perfeito, que dê ideia do enredo do capítulo sem revelar nenhum segredo que seria revelado apenas com a leitura (como o famoso caso do episódio "A Morte de Freeza", no anime Dragon Ball Z).
O livro "As Crônicas de Spiderwick - O Guia de Campo", e suponho que todo o resto dos livros da série As Crônicas de Spiderwick, possui um estilo de nomear os capítulos bem diferente do que com o que estamos acostumados.
Ao invés de possuir um título que dê uma ideia a respeito do capítulo, ele simplesmente conta o que ocorre no mesmo, com bastante cuidado para que não haja nenhum spoiler importante e que prejudique a apreciação da edição.
Entendeu? Se não, veja a pequena análise de cada capítulo.


Capítulo 1 - Em que os irmãos Grace conhecem sua nova casa.

No primeiro capítulo, três irmãos (Mallory, Jared e Simon Grace), acompanhados de sua mãe, chegam á uma casa abandonada que pertencia a seu antigo tio-bisavô Arthur Spiderwick. É neste ponto em que os personagens nos são apresentados de uma forma tão boa e rápida que logo nos acostumamos com os irmãos e suas personalidades, e começamos a conhecer a casa em parceria com os Grace.

Capítulo 2 - Em que duas paredes são exploradas por uma enormidade de métodos diferentes.

Aí a trama começa a se desenrolar. Os irmãos ouvem algo andando pela parede e logo surge a resposta lógica - Um esquilo. Querendo confirmar se realmente há um esquilo nas paredes do casarão antigo (se você é um fanático por Harry Potter, não vai deixar de deduzir que exista um basilisco nos encanamentos do ambiente), os irmãos abrem a parede, bagunçam o que parecia uma espécie de ninho e ainda investigam as paredes da casa por meio de um elevadorzinho. Assim o título do capítulo ganha lógica, pois foram usados vários métodos para explorar essas paredes - Pancadas de vassouras, vasculhar o ninho e andar pra lá e pra cá dentro de um elevadorzinho interno.

Capítulo 3 - Em que surgem muitos enigmas.

É, tecnicamente, a continuação do capítulo anterior, em que Jared chega a um espécie de sala secreta, uma espécie de biblioteca, a qual ele só teve acesso devido ao elevadorzinho. Lá realmente surgem muitos enigmas, pois Jared começa a perceber a presença de seres fantásticos no casarão, ao se deparar com uma enormidade de livros que tratam de criaturas mágicas e também se depara com mensagens que se escrevem sozinhas e enigmas sem respostas.

Capítulo 4 - Em que surgem respostas. Mas não necessariamente para as perguntas certas.

Cheio de enigmas para resolver, Jared começa a investigar a casa o máximo que pode. Mesmo sem êxito em descobrir que tipo de criatura está na casa, Jared segue as instruções de um bilhete antigo que encontrou na biblioteca e logo encontra um livro. Portanto, a pergunta "do que se trata o bilhete" foi respondida, embora a pergunta para qual ele buscava a resposta era "qual é o animal que anda nas paredes do casarão?". Essa continua sem resposta.

Capítulo 5 - Em que Jared lê um livro e prepara uma armadilha.

Após encontrar o livro (intitulado O Guia de Campo), Jared, obviamente, o lê, em busca de informações e tentando solucionar mistérios.
Nada descobre, apenas aprende muito sobre criaturas mágicas, incluindo diabretes, duendes, gnomos, anões, grifos, fadas e vários outros. Logo, pra tentar surpreender o animal desconhecido, Jared vai até a cozinha no meio da noite e joga farinha no chão, com o objetivo de flagrar algumas pegadas que o ser deixaria durante a noite.

Capítulo 6 - Em que eles acham coisas inesperadas na geladeira.

Ao acordar pela manhã, a cozinha está muito bagunçada, há farinha por todos os lados e coisas fora do lugar. Logo todos desconfiam de Jared, e ninguém acredita quando ele diz que, provavelmente, foram os seres mágicos. Aliás, ele não tem nenhuma prova de que realmente algum personagem sobrenatural tenha feito aquilo. Para piorar a situação, no congelador são encontrados os girinos de estimação de Simon congelados, e um bilhete dizendo "Não é belo ato congelar os ratos" . Logo após isso, os ratos Tomas e Jefferson, de estimação de Simon, desaparecem.

Capítulo 7 - Em que o destino dos ratos é solucionado.

Ao ler o pequeno resumo do capítulo anterior e ao ler o título deste, não é preciso ser um gênio pra deduzir que agora é o momento em que os ratos são encontrados. Mas não é apenas isso o que acontece.
Aqui neste texto já foram revelados muitos spoilers da obra, e o que seria revelado aqui tornaria inútil a leitura...pois não haveria nada a ser descoberto.

Porém, na curta análise de cada dos capítulos com seus títulos, não seria besteira mudar o título do próximo livro de "As Crônicas de Spiderwick - A Pedra da Visão" para "Livro Dois - Em que a História Continua".


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

He-Man, Star Wars e dor de cotovelo.

Em 2012, o antigo, clássico e famoso desenho animado He-Man completou trinta anos de existência. Em todos esses trinta anos (que estão, agora em 2013, prestes a se tornar 31) , muitos produtos foram lançados, muitas histórias acerca do desenho ficaram conhecidas e milhares de fãs do herói loiro e musculoso surgiram em todo o mundo.
Mas são poucos os que realmente sabem as origens e as polêmicas que influenciaram na criação desse clássico personagem.
Na década de setenta, a Mattel era a maior empresa fabricante e distribuidora de brinquedos em todo o mundo e eram frequentes as ocasiões em que produtores de enormes filmes voltados ao público jovem procuravam a empresa para pedir que a mesma produzisse a linha de brinquedos inspirada em seu filme (tanto que os melhores bonecos de Star Trek, Toy Story, Liga da Justiça e filmes da Disney em geral são produzidos pela Mattel).  E foi nesse embalo que, em 1976, George Lucas (O criador da saga cinematográfica mais rentável de todos os tempos - Star Wars) pediu a Raymond Wagner, presidente da empresa, que produzisse a linha de brinquedos Star Wars, pois o filme estava prestes a ser lançado.

 Após ler a sinopse da obra e ao saber que George Lucas queria setecentos e cinquenta mil dólares pelos direitos dos personagens e do filme, Raymond Wagner recusou o pedido afirmando que não investiria em um filme sem sucesso comprovado.
Semanas após o lançamento de Star Wars, e após perceber que recusar a saga foi, provavelmente, o maior erro de toda a sua vida profissional, Raymond Wagner decidiu que precisava criar uma nova linha de brinquedos para que, possivelmente, conseguisse alcançar o sucesso de Star Wars e recuperar o dinheiro que havia, supostamente, perdido. E após diversas reuniões, Roger Sweet apareceu com protótipos de bonecos bárbaros, que logo se tornaram no famoso He-Man que conhecemos hoje, pois com o brinquedo logo vieram as HQs e os desenhos animados.
Se Star Wars contribuiu com o mundo do cinema fazendo revoluções tecnológicas e criando efeitos especiais que ninguém jamais havia ouvido falar, também contribuiu para o mundo dos desenhos animados...pois sem o sucesso de Star Wars, a Mattel não teria nada para tentar superar, e nunca assistiríamos He-Man.

Toda essa história passaria despercebida, e quem não a conhecesse nunca iria nem suspeitar que He-Man e Star Wars tivessem alguma coisa a ver, pois nunca haveria nenhum indício da saga de ficção científica nos desenhos animados do jovem bárbaro.
Mas essa situação já é diferente no filme "Masters of The Universe", em que Dolph Lundgreen fazia o papel de He-Man e Courteney Cox fazia o papel da personagem Julie Winstons, criada especialmente para o filme.
Ao assistir o filme, se descobre algo que nunca antes teríamos notado - Há uma richa entre He-Man e Star Wars.
Tudo, neste filme, incluindo personagens. Até mesmo o tema musical do filme é semelhante ao clássico tema de Star Wars.

Alguns personagens são facilmente associados com os de Star Wars, como o Beastman apresentado no filme.
Pode parecer um personagem até original, se não fosse muito parecido com o Chewbacca.
E depois de conhecer a história por trás de todas essas referências (e , talvez, até pequenas ofensas) a Star Wars escondidas no filme de He-Man, cria-se a dúvida na cabeça da pessoa de que talvez as duas frases mais famosas dessas franquias estejam associadas justamente por isso.

"Eu tenho a força!" - He-Man
"Que a força esteja com você." - Star Wars.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Crítica Literária - Quatro Num Fusca


Hoje em dia é praticamente proibido criticar negativamente qualquer artista ou personalidade que seja considerado um clássico. Falar mal de uma música do Nirvana (mesmo que seja a ridícula Beans) ou ridicularizar algum filme de Schwarzenegger (mesmo que seja o terrível Hercules In New York) é pedir para ser criticado e correr o risco de ser tachado de "sem cultura" ou "pessoa que não sabe apreciar a boa arte".
Bem, todos cometem erros, até os mais talentosos artistas. Renato Russo tinha um grande ego, Cazuza usava drogas, e Freddie Mercury fazia de tudo por um holofote.
Então, Esdras do Nascimento, clássico escritor de novelas, contos e romances brasileiros, não fica de fora disso, tendo um livro que pode muito bem ser analisado e criticado, sem nenhuma amenização por ser um escritor clássico. Afinal, existem livros ruins em todas as épocas, e escritos por todos os tipos de pessoas.


Quando se compra um livro sem nunca ter ouvido falar nele, é bem fácil citar os três motivos pelos quais você provavelmente comprou o livro:
1 - A capa te chamou a atenção.
2 - O título te chamou a atenção
3 - Você leu a sinopse e se interessou.

Se não forem esses, não existem outros motivos para ler Quatro Num Fusca, exatamente por não ser um livro famoso (e nem um dos mais conhecidos entre as obras de Esdras).
Mas isso não é defeito nenhum, até porque nenhum livro tem obrigação de ser famoso para ser considerado bom. O problema é que este livro não cumpre o que sua capa promete.
Começando pelo título, que não é nada fiel a história.
Na história do livro, o Professor Lauro organiza uma viagem em família, aonde eles vão do Rio de Janeiro ao Ceará todos metidos num fusca. E dessa viagem participam o Professor Lauro (pai), Ana Maria (mãe), Dinha (filho mais velho), Daniel (filho do meio), Andrea (filha mais nova) e Marcelo (Um menino amigo da família). Durante todo o livro, esses são os únicos personagens fixos e que apresentam algum tipo de importância na trama.
Mas tudo é uma questão de matemática até que se perceba o erro. Lauro, Ana Maria, Dinha, Daniel, Andrea e Marcelo...seis personagens viajando dentro de um fusca. O livro se chama "quatro num fusca". Ou  Esdras é terrível em matemática ou ele apenas achou que "quatro num fusca" soaria melhor do que "seis num fusca". Mas não importa o que soa melhor,o que importa é a fidelidade de um título com seu respectivo livro.
                                                                   ... ... ...

Seguindo a linha de raciocínio em que "Quatro Num Fusca" engana seu leitor, devemos analisar a história.
Na sinopse encontrada na contracapa do livro, a trama é descrita como uma aventura dinâmica que se passa durante uma viagem de fusca até o Ceará, e que também possui um constante clima de ação. Isso é mentira!
Boa parte da trama se passa dentro do fusca, com conversas que não levam a lugar nenhum e não servem de nada a não ser para ocupar espaço em algumas páginas.
A falta da ação e aventura mencionadas no livro fazem com que a leitura seja cansativa e algo que o leito tente evitar, fazendo com que o livro leve dias para ser lido, mesmo que tenha apenas cento e vinte páginas.
Em um dos primeiros capítulos,o autor parece apresentar a primeira coisa interessante em toda a trama:
As crianças mencionam que talvez possam investigar o Ceará quando chegarem lá em busca de Tarzan, que estaria morando nas "selvas" de lá.
Isso é algo que dá uma atmosfera meio "Monteiro Lobato" ao enredo, tornando o livro mais interessante e proporcionando ao leitor um tanto de esperança em relação a possíveis (?) melhorias em "Quatro Num Fusca".
Mas o Tarzan cearense e toda a busca por ele foram esquecidos! Mencionados em um único capítulo e depois abandonado, nem depois de chegar no Ceará as crianças pensaram em procurar pelo Tarzan, algo que deveria ter sido pelo menos mencionado ao decorrer da história. Esdras do Nascimento conseguiu escrever um enredo sem atrativo nenhum e ainda matou o primeiro e único indício de que a história poderia dar certo.


Mas se "Quatro Num Fusca" fracassa totalmente como ficção, ele se salva exercendo sua segunda função com certa maestria : Cartão postal.
O que a construção da trama de Quatro Num Fusca tem de pobre, a "função cartão postal" da obra tem de rica. É muito difícil decorar os nomes dos poucos personagens apresentados no livro, porém, depois de lido duas ou três vezes, a obra começa a te fazer entender melhor a geografia brasileira e ainda te dar vontade de ir viajar para o Ceará ou para qualquer outro canto pelo qual a família passa em sua viagem.
Quatro Num Fusca pode servir muito bem como um mapa ou um guia-de-bolso do sertão brasileiro, mas fracassa miseravelmente como ficção, de modo que a impressão que fica é que Esdras do Nascimento não escreveu uma história e sim uma poesia de cartão postal que ultrapassou o limite de linhas e só pôde ser publicada como livro, e na categoria ficção.

Concluindo, se estiver procurando um livro de ficção que narre uma viagem em que você, leitor, possa se divertir e passar o tempo...não leia Quatro Num Fusca pois não é isso que você procura. Leia "Viagem Ao Centro da Terra", "Emília no País da Gramática" ou, se você prefere livros fantasiosos, procure ler as sagas "As Crônicas de Nárnia" e "Percy Jackson e Os Olimpianos".
Mas se quiser uma ajudinha nas aulas de geografia (o que é bem provável, já que é muito raro algum jovem dizer que é bom em geografia), talvez "Quatro Num Fusca" possa te ajudar. Mas nem pense em se divertir enquanto estuda, pois, se envolve este livro, é uma expectativa falsa.

Nota 2 para o livro.