Glauber Lopes é ilustrador
paulistano. Tem trinta e um anos e desenha dese os seis. Influenciado por obras
diversas como Turma da Mônica e Dragon Ball Z, decidiu bem cedo que iria
trabalhar com quadrinhos.
Cursou design gráfico pois era o mais próximo que existia de
histórias em quadrinhos. Com muito suor, esforço, estratégia, criatividade e
autenticidade, Glauber está atualmente com o projeto Registros que acabou de
bater a meta! Uhuul!!
O Literatura do Guimarães o convocou para que
pudéssemos bater um papo saudável sobre quadrinhos...e rendeu BASTANTE!
Acompanhem!
LDG – Você disse que foi bastante influenciado por quadrinhos, a ponto
de ter decidido a carreira quando criança e escolhido a faculdade baseado
nisso. Na sua fase adulta, como trabalhou essa vontade louca de fazer
quadrinhos com a necessidade de trabalhar?
Glauber - Já na fase adulta, fiz faculdade de design gráfico pois
era o que mais se aproximava do que eu queria naqueles tempos.
LDG – Onde se formou?
Glauber – Me formei nas faculdades Oswaldo Cruz – FAITER.
Nesse meio periodo entre
faculdade, formação e o que eu deveria fazer com a minha vida, muito do que eu
gostava ficou pra trás porque naqueles tempos não tinha previsão se seria
possível viver de ilustrações, muito menos quadrinhos...Então tentei trabalhar
em alguns estúdios com design, mas eu nunca encontrei alegria nesses lugares.
Foi então que comecei a refletir o que eu
poderia fazer. Enquanto isso, estava buscando maneiras de manter os quadrinhos
vivos. Percebi uma onda crescente de webcomics surgindo na internet então
testeria com algum título.
Foi aí que nasceu minha HQ Speed,
que conta com 80 episódios hoje em dia, mas desenhados apenas 2 (eu não
conseguia encontrar tempo pra desenhar sempre porque chegava muito quebrado do
trabalho).
O primeiro episódio tinha levado
um ano pra fazer (2008), e o segundo levei mais um ano (2009). E o segundo
episódio só saiu por que fui em uma feira de cultura japonesa na época e vendi
todas as cópias do primeiro exemplar. Daí queria imprimir uma segunda leva com
o segundo, terceiro e quarto episódio, mas eu não estava conseguindo fazer.
Vivia trocando de emprego e nenhum me agradava. Tinha perdido o gosto de
desenhar por prazer, já que tudo que eu tinha que fazer era por dinheiro. Me
incomodava também o fato de todos falarem que mangá não funcionava no
Brasil...e eu queria provar que as coisas eram diferentes. Que quadrinho em
estilo mangá poderia ser algo bacana,
desde que muito bem feito.
Página de Speed! |
Glauber - Mais uma vez, eu não encontrava
tempo pra produzir as coisas do jeito que queria e estava muito desmotivado.
Conforme estudava o nosso mercado, descobri que histórias seriadas não vingavam
devido a seu alto custo de produção. Nessa época eu lembro que não queria mais
saber de produzir até descobrir o que eu poderia fazer com aquilo tudo. Depois
de 2009, cheguei a conclusão apenas no final de 2011 que o que eu deveria fazer
eram histórias curtas. Dessa forma, poderia seguir trabalhando e concluir algo.
No comecinho de 2012 escrevi então
uma história chamada "Mãe", com começo, meio e fim. Me dei conta de
que tinha sido a primeira vez que tinha feito isso, por que tudo que sempre
desenhei eram histórias de muitos capítulos (seguindo o raciocínio japonês de
histórias seriadas...eu adoro isso).
Comecei a colocar ela no papel, e
apenas pelo storyboard percebi que ela teria mais de 300 páginas. Pensei comigo
que conseguiria desenhá-la dentro de um ano ou dois. Precisaria apenas seguir
ganhando dinheiro como freelancer e dando aulas. Mas na época os trabalhos não
apareceram mensalmente, me forçando a procurar empresas pra trabalhar como
assalariado novamente. Mais uma vez, eu estava sempre cansado e não conseguia
produzir nada...
Foi então que deixei mais uma vez
uma estória de lado e achei que era hora de fazer ,então, uma história ainda mais
curta. Foi onde nasceu Registros, em que a primeira história eu publiquei inteira
no Facebook e tinha apenas 12 páginas. Senti uma alegria muito grande porque
enfim tinha conseguido terminar algo! E as pessoas me dando feedback de que
gostavam foi ainda melhor!
Essa motivação toda me fez
perceber que eu não estava pronto para grandes histórias...que eu precisava me
disciplinar a fazer coisas curtas, pra depois ir aumentando...e assim eu segui
desenhando o segundo episódio de registros quando tinha dinheiro comigo. Os
freelas foram aumentando, e eu tinha mais tempo pra desenhar a HQ. Apesar
disso, só consegui terminar de desenhar HQ no ano de 2014, em meados do final
de setembro.
Foram dois anos de produção e
nesse tempo estava procurando maneiras de aprender a desenhar mais rápido.
Acabei aprendendo várias técnicas de pintura que me tornaram mais rápido.
Acredito que foi por isso que consegui terminar esse projeto. Feito isso, ainda
nesse meio tempo, fiz páginas da HQ A Última Fábula de Francisco Costa.
Percebi como estava desenhando
rápido e minha produção tinha melhorado por conta da quantidade de coisas que
era capaz de entregar por mês. Feito tudo isso, era hora de investir na
campanha pro Catarse, onde levei mais dois meses de produção. Hoje a luta segue
pra tornar esse projeto real enquanto participo de outros, como o livro
Ciclanos e Ciclanas, de Pedro Balboni.
Ciclanos e Ciclanas |
Glauber - Minha ideia é atingir a meta final
dessa campanha, e quando entregar todas as recompensas e trabalhar na venda de
Registros, separar o ano que vem para começar meu novo título, que está semi
escrito, mas precisa de mais aprofundamento. Aí essa história será em estilo
mangá adulto.
LDG - Entendo, cara. Você até que tem uma puta história de vida,
relacionada a persistência. (risos)
Glauber - Meu lema é perseverança sempre (risos). Teimosia também
(risos).
LDG - Essas suas duas primeiras
histórias, Speed e Mãe. Eram sobre o que?
Glauber - Speed era mangá adolescente, sobre um garoto que queria
se tornar campeão de campeonato de bikes no mundo. Ele queria ser o maior e
melhor de todos. A história começa em São Paulo, um time de bike bem pequeno
que vai crescendo no decorrer do tempo. Mas quando leio, hoje em dia, vejo
vários problemas no roteiro e que tenho que mexer em muita coisa.
LDG – E Mãe?
Glauber - Mãe já é uma história mais adulta e cruel onde uma menina
de doze anos sofre na vida por ter uma mãe inconsequente e irresponsável. Essa
mãe acaba se suicidando, se jogando na linha do trem, e a menina fica sozinha
no mundo com seus dois irmãos menores. Essa história fala de como as pessoas
podem ser egoístas de várias formas.
LDG - São duas histórias com premissas e tons bem diferentes uma da
outra. Isso tem a ver com a sua situação na época em que fez cada uma ou é
porquê as ideias vieram de lugares diferentes?
Glauber - As ideias vieram de lugares diferentes da minha mente,
mas todas tem relação comigo. A primeira fala muito da perseverança, que você já
percebeu que faz parte de mim. (risos). A segunda fala sobre o ego,e o meu incluso. Em outras palavras – São
fragmentos de mim.
LDG - Mas como encara as duas histórias? São pessoais a ponto de
deixá-lo exposto caso algum conhecido as leiam ou são pessoais estritamente pra
você, baseado nas coisas que você pensa e sente sobre os temas sendo abordados?
Glauber – Segunda opção (risos). A única história que eu me exponho
diretamente é Registros...que não tem como ser diferente. Mas na real, eu não
gosto de falar de mim...eu prefiro falar de outro jeito. Como a maioria dos
quadrinistas fazem.
Desenhos de "Mãe". |
LDG – E onde essas duas primeiras histórias podem ser achadas?
Glauber - Em lugar nenhum, por enquanto (risos). Eu preciso
consertar a primeira e fazer a segunda. São histórias que considero bacanas e
que merecem conhecer o mundo.
LDG - Você disse que gosta de falar
de si mesmo utilizando suas obras como outros quadrinistas. Quais são seus
quadrinistas favoritos e os que mais lhe influenciam?
Glauber - O primeiro deles é Akira
Toriyama que, sem sombra de dúvida, foi o meu grande mestre a distância e que
me treinava sem saber. Takehiko Inoue e a sua incrível maneira de contar
histórias que encantam, como Slam Dunk e Vagabond. A primeira, um tanto quanto
adolescente mas que te prende fortemente. Fico pensando como uma pessoa
conseguiu transformar uma história de basquete em momentos tão fodas. E
Vagabond que é super visual...um mangá "quieto", por que muito do que
se passa lá te faz querer ficar parado em um quadrinho por minutos...você quer
ler a imagem. E na verdade, você precisa, se não, não vai entender a história. E
pra terminar os artistas que me influenciam visualmente, tem o Hiroaki Samura,
com a maneira espetacular de contar uma história de forma cinematográfica.
Ilustra de Florent Sacré, um dos ícones do Glauber. |
Agora os que me influenciam na
parte de roteiro, fotografia e outras coisas, tem o Miyazaki do Studio Ghibli,
o Naoki Urasawa que conta uma história como ninguém. Tem o Nicholas de Créci,
Bastien Vivés, Cyril Pedrosa,Moebius...
Todos eles me influenciaram de
forma visual e de como contar uma história. Também não posso esquecer de
Florent Sacré (com quem já tive a honra de conversar) Kim Jung Gi e Craig
Thompson. Acho que é isso (risos).
LDG - E entre as webcomics
brasileiras? Se já chegou a se render a elas, quais são as que acompanha ou as
que mais gosta?
Glauber - Não tenho muito costume
de ler webcomics...não me recordo de nenhuma agora que eu realmente leia e
acompanhe. Lembro de um tempo que parei pra ler o Ledd, e tava me interessando
pra saber onde ia dar a história. Mas eu acho que ele parou de desenhar...não
sei o que houve.
LDG - Nem mesmo essas tirinhas sem
continuidade que tanto habitam a internet brasileira, como Dr Pepper ou Um
Sábado Qualquer?
Glauber – Leio de vez em nunca. Não
tenho muito costume, leio mais as que aparecem na minha timeline, no Facebook.
LDG – Compreendo. E influência de
outras mídias? Cinema, TV e música? Acha que tudo isso que consome influencia
no seu trabalho? Quais obras, em específico?
Snarky Puppy, banda que o Glauber curte. |
LDG - Posso ver que os quadrinhos
que lê são bem diferentes entre si assim como as bandas que escuta também não
possuem um gênero ou estilo padrão. Na sua opinião, esse ecleticismo e
variedade prejudica ou ajuda nos seus trabalhos?
Glauber - Pra mim ajuda, por que eu
não gosto de mesmice. Acho que te limita criativamente e te faz sentir coisas
repetitivas. A gente não consegue ser igual todo dia, mesmo que queira. Tem dias
que você tá mais animado, tem dia que você tá mais irritado...e tem dia que você
tá animado e feliz e no outro tá aborrecido e triste, entende? São uma série de
sensações por dia. O que eu vejo, escuto e sinto precisa ser assim também. Tem que
haver um movimento, dentro e fora.
LDG - Acha que conseguiria, por
exemplo, escrever uma história sobre tristeza e, logo após que a terminasse,
escrever uma sobre amores correspondidos sem que o contexto de uma
influenciasse na outra?
Glauber - Acho que sim. Mesmo porque
eu sei me desapegar das sensações que sentimos quando criamos. O único problema
de escrever uma coisa em seguida da outra é que a sua cabeça tá cansada, e
ainda apegado com a outra história. O que eu sempre faço é dar um tempo até que
esteja totalmente desapegado. O que eu quis dizer é que eu consigo fazer com
que essas duas histórias te passem sensações distintas. Cada qual cumprir com a
sua função. E não fazer com que ,de alguma forma, uma esteja apegada a outra. Não
sei se ficou claro.
LDG – Ficou sim, ficou sim. Para
dar início a um novo "debate" - Uma das formas de ter certeza de que
sua história vai tomar o rumo que você deseja é deixando-a sempre em suas mãos.
Você, então, terceirizaria uma "história" sua ou algum personagem,
como fazem os criadores de super-heróis e como fez Mauricio de Sousa com a Turma
da Mônica? Tipo, deixaria que outras pessoas criassem histórias para eles mesmo
que corresse o risco dos personagens sofrerem alterações indesejadas por você?
A admirada turminha da Mônica, de Maurício de Sousa. |
Mauricio de Souza sabe controlar
isso melhor, por que as historias da Mônica seguem o mesmo padrão desde sempre.
Não ocorreu o mesmo com a Marvel. Certamente, o Mauricio analisa tudo com muito
cuidado.
LDG - Sim, como ele mesmo diz, nada
é publicado sem que ele ou sua filha Marina, filha com maior participação nos
estúdios, leia antes.
Glauber - Pois é! Existe uma
preocupação maior do que mercadologia e eficiência nas vendas
Hoje em dia eu não leio comics e
esse é um dos motivos. Já tem muita coisa feita que não tem o menor sentido nas
séries. Homem Aranha, por exemplo, era o que eu mais gostava e eles destruíram
o personagem com histórias nada a ver,vilões piores ainda. Por isso que hoje as
histórias não tem a mesma força e, nos filmes, ficam focando só no começo da
série. Na minha opinião, esse personagem tá quase morto!
Homem-Aranha, que Glauber diz estar quase morto. |
LDG - Mas não acha que se fosse o
Stan Lee que escrevesse SEMPRE, como era no começo, o personagem hoje em dia não seria o ícone que é?
Glauber - Se fosse ele sempre,
seria totalmente diferente o rumo do personagem. Porque quer queira quer não,
quando a gente cria algo, é parte da gente. E só o criador sabe o que ele quer
com a cria e que rumo ela deve tomar.
Hoje os filmes da Marvel tem um
padrão de qualidade porque ele tá envolvido...tenho certeza disso.
LDG - E nesse tempo em que inúmeros
quadrinhos são adaptados pra séries de tv ou filmes, você já imaginou alguma
obra sua sendo adaptada pra outra mídia? Ou gosta de imaginar um quadrinho
apenas como quadrinho para que a pressa do seu pensamento não prejudique a
obra?
"Mãe" que Glauber desenhou imaginando que poderia virar filme! |
LDG - Por exemplo, se você não acha que pensar
na HQ como um filme pode atrapalhar que você continue a encarando como uma HQ e
acabe prejudicando a mesma por causa disso.
Glauber - Bom, eu pelo menos quando
faço HQ, procuro sempre utilizar da linguagem de HQ adicionado a linguagem do
cinema. Isso em tudo que eu faço então não encontro esse problema de adaptação.
Também sei que certas situações da HQ, se adaptada ao cinema, elas precisam de
nova roupagem. Porque é utilizado o movimento e o som.
LDG – Então pra você funciona?
Glauber – Funciona!
LDG - Com esse seu pensamento de
que a "terceirização de personagens" ´pode prejudicar uma
história...você toparia se fosse chamado pra escrever uma história pra algum
personagem já existente?
Glauber - Se eu gostasse do
personagem, sim. Mas você pode ter certeza que eu morreria de medo de
descaracterizar ele. Por isso eu tenho essa preocupação com os meus
personagens. Se uma pessoa quiser "terceirizar"o personagem dele(a),
por mim tá ok.
LDG - Compreendido. Outro conceito
- Você ilustra a história roteirizada por outras pessoas, mas roteirizaria algo
por encomenda (quase como uma história feita como freelance) ?
Glauber - Claro que sim! Seria
muito divertido! Eu não tenho restrição pra temas...quer dizer, terror eu não
gosto. Então, tudo, menos terror, eu faria com gosto. A minha preocupação
estaria mesmo com o prazo que me dessem. Porque eu gosto de estudar bem o que
eu faço, odeio coisa mal fundamentada.
LDG - Mas não tem medo da pessoa ou
instituição que tivesse incomodado ficar botando dedo no roteiro e acabar
tirando a sua identidade da HQ?
Freelance que Glauber fez pra um casal. Fofo, não? |
LDG - Mas, por exemplo, deixaria
ser publicado algum trabalho seu que você considerasse ruim mas que o cliente
(que encomendou o trabalho) tivesse gostado?
Glauber - Sim, eu deixaria...se o
cliente fizer muita questão ok. Mas eu não divulgaria (risos).
LDG - Pra você divulgar um trabalho
seu, quais são as características que ele PRECISA ter? Cite três.
Glauber - Pra que eu divulgue um
trabalho eu acho que ,essencialmente, PRECISA estar bonito. Então uma boa
composição, boa escolha das cores e um bom contraste.
LDG - E o roteiro? Como o elabora a
partir do momento em que a ideia surge na sua cabeça?
Glauber - Começo pelo ponto chave
do roteiro que seria: o motivo dele existir. Tem gente que escreve focando no
personagem principal e pra mim isso atrapalha. A história não tem motivo pra
existir, e o personagem não adquire um propósito dentro da trama. Depois, eu
escrevo o final. Eu preciso saber como ela vai acabar pra poder escrever o
começo e depois o meio. Dessa forma, a história tem muito mais fundamento.
LDG - E quando se adapta histórias
reais, como faz no seu projeto Love Files ?
Glauber - Aí fica mais fácil porque
eu já tenho tudo: sei como tudo começou e como acaba. A minha unica missão é
adaptar aquilo pra mídia em questão.
LDG - Como é esse projeto?
Glauber – Love Files eu comecei a
produzir porque estava pensando em meios de ganhar dinheiro e ao mesmo tempo
fazer o que mais amo, que são os quadrinhos. Já tinha dado um presente assim
pra uma ex-namorada, e achei que poderia fazer isso para os outros. Porque não
deixa de ser um presente bacana. Acabei encontrando o primeiro e segundo
cliente, que pediram as histórias por encomenda. Aí é como contei: o cliente me
manda a história meio que dissertando, e eu adapto pra quadrinhos. Depois o
cliente avalia e eu finalizo. Pra fazer a versão impressa, eu peço permissão do
cliente. Porque é a vida dele, tem total direito. Aí depende do tamanho da
história (oito, doze, dezesseis, dezoito, vinte, vinte e quatro ou trinta e
duas páginas), cada uma tem um preço.
Capa de Lifting Spirits, que você pode ler completa aqui! |
LDG - E essas que foram produzidas,
seriam histórias que você leria e recomendaria se não fossem suas ou as vê mais
como um trabalho rentável mesmo?
Glauber - Nãoooo, foram histórias
muito bonitas! Não sei se você leu, mas eu gostei muito do que descobrir. A
primeira se chama Lifting Spirits e o que eu mais gosto de saber é que hoje
eles são casados. Então isso me deixa muito satisfeito. Histórias com finais
felizes. Aliás, eu sugiro dar uma lida. Vai ver como são histórias de romance
bem bacanas. Se tiver difícil de ler os balões, pode fazer download das
páginas.
Página de Lifting Spirits. |
Glauber – Sim. Bom, eu falo meio
que a mesma coisa por aí (risos). Não tem muitas coisas diferentes também pra
se falar (risos). Se trata de uma HQ que retrata minhas aventuras como
mochileiro pela Argentina e pela Colômbia. Nessas histórias, coloquei um toque
de poesia, de literatura, de drama, filosofia e aventura. Foi a maneira que
encontrei pra traduzir tudo que vivi. Porque na real, é um pouco impossível de
querer traduzir todas as maravilhas que é fazer uma viagem como mochileiro. Mas as principais coisas tão lá. São
48 páginas de conteúdo bem bacana, que não se vê muito por aí. Todas são
coloridas, tem uma sessão de dicas pra quem quiser se tornar mochileiro
também.
LDG - E como surgiu a ideia? Veio
depois da viagem finalizada ou enquanto você viajava já estava pensando
"Putz, isso aqui dá uma HQ, hein?" ?
Glauber - Não, não. Como disse lá
no começo, eu precisava escrever uma HQ que fosse mais rápido de fazer, que
coubesse dentro do meu tempo. A ideia veio uns vinte dias depois de eu voltar
pro Brasil. Pensei comigo que seria uma boa contar, já que foram acontecimentos
tão diferentes e bem longe do comum.
LDG - Sempre que termino de escrever qualquer coisa,a primeira pergunta que me faço é - Por que os outros leriam isso? Então...por que acha que as pessoas leriam Registro? E você a leria, pra início de conversa?
Glauber - Acho que Registros vale
a pena ser lido por pessoas que sejam curiosas pela vida e que gostam de
desafios. Foi isso que me motivou a viajar. E durante a viagem, passei por
transformações muito grandes. Acho que todo ser curioso, busca por essa
evolução pessoal e Registros tem essa capacidade de conectar o leitor, desde a
dúvida, o caminho do esclarecimento e a resposta. No final, se tem uma
realização. Hoje me sinto muito mais realizado e através da história, conto
como isso aconteceu. É praticamente um convite do tipo "ei, leia essa
história aqui. Ce vai ficar louco querendo viajar também e descobrir coisas do
mundo e de si mesmo que jamais poderia imaginar!"
Preview de Registros. |
LDG - E por que resolveu ilustrar
com este traço mais amigável ao invés do traço mangá que você tanto prefere?
Glauber - Porque eu acho que não
caberia o estilo mangá. O assunto em si foge da narrativa do mangá, então era
importante criar um traço. Quem me conhece sabe que minhas raízes são o mangá.
E eu não consigo fugir muito...se você reparar, ainda tem muita coisa que
lembra.
LDG - Consegue enxergar Registros
crescendo e ganhando "sequências", mesmo que não sejam adaptadas de
viagens reais?
Glauber - Eu prefiro focar em
viagens reais...mas nunca se sabe, né?
LDG - E o medo de rolar aquela
pressão? De toda viagem que for fazer acabar tendo, consigo mesmo, a obrigação
de registrar em HQ?
Glauber - Na verdade não. Eu já
tive uma conversa séria comigo mesmo pra que essa paranoia não ocorra. E decidi
que somente as histórias que mudarem a minha vida de alguma forma merecem um
registro.
LDG - Além, então, de persistência
e teimosia...faz parte do seu lema o tal do auto-controle, né?
Glauber - Eu não diria que é um lema,
mas é algo que procuro ter sempre dentro dos meus hábitos. Acho importante a
gente estar se policiando, até pra não falar bobagem, ou se irritar demais...ou
qualquer comportamento que cause desarmonia á toa.
LDG - Tudo isso pensando no bem
estar da sua obra...e do seu mesmo, né?
Glauber – Exatamente. A viagem me
ensinou que somos capazes de ter controle total sobre nossas vidas, mas não
pela vida. Não podemos controlar nada, apenas participar.
LDG – Algo parecido com destino?
Glauber - O destino é entendido
como algo pre destinado. E eu não sei se tudo é pré destinado...ou parte. Não
sei mesmo. O que eu sinto é que a vida nos trás coisas pro nosso crescimento.
Mas se aquilo já estava escrito pra você, eu não sei.
LDG - Entendo. Bem, Glauber, a
entrevista já está chegando ao fim...então, gostaria de lhe perguntar mais duas
coisas: Primeiro, para os leitores que estão pensando em começar a ler
quadrinhos agora, o que você sugere como um bom HQ de início?
Glauber - Acho que se for uma
criança, começa com Turma da Mônica que é legal. Se for adolescente, pode ler
mangá ou comics...então eu sugiro Dragon Ball e X-Men. São clássicos que
mostram os padrões de cada estilo e vai situar bem a pessoa. se for adulto, que ele ou ela leia graphic
novels, seja MSP ou títulos europeus e americanos. Ah!! Que leia também os
mangás, seinen como Monster, de Naoki Urasawa.
LDG - E as dicas para quem está
pensando em começar a trabalhar com quadrinhos?
Glauber - Pra trabalhar com
quadrinhos, antes de tudo tem que aprender a desenhar fazendo cursos de
desenho. Assim que a pessoa se sentir bem desenhando, que tudo estiver meio que
dominado, aí fazer um curso de roteiro (que a maioria não faz). Quando for
começar a praticar, fazer histórias curtas de duas páginas com começo, meio e
fim. Além de fazer tiras. Começando a se sentir confortável, aumenta o número
de páginas. Fazer vários temas pra ir se acostumando com os tempos que cada
tipo de quadrinho dispõe. Tenho certeza que, começando assim, essa pessoa vai
se tornar um grande profissional!
LDG - Muito obrigado, Glauber.
Valeu mesmo por ter topado participar da entrevista o/ !
meu pau ta duro e seu blog morto
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