Quando foi anunciado que a nossa amada e conhecida Turma da
Mônica passaria pela singela mudança de que finalmente deixariam de ter seis
anos para virarem adolescentes (ou jovens), toda a população do Brasil
simplesmente vibrou.
Os mais leigos no assunto alegavam que seria fofo ver os
personagens que os ensinaram a ler vivendo novas situações que não enfrentaram
antes devido a sua pouca idade.
Os mais rebuscados em linguagem (como eu) alegavam que a
Turma da Mônica Jovem seria uma ótima ideia por alguns fatores:
- As crianças que liam Turma da Mônica quando tinham seis
anos, agora tem dezesseis anos e vão voltar a acompanhar a vida dos personagens
que deixaram de acompanhar (possivelmente) por terem "crescido".
- Mauricio de Sousa é um gênio que pode criar histórias
sobre qualquer tipo de tema. Porém, o fato da Turma da Mônica ser criança o
limitava. Agora, a turma jovem abriria um grande leque de assuntos não tratados
como drogas, sexo etc.
- Ninguém pode negar o quão interessante é a ideia de vermos
nossos ícones de infância crescidos e fazendo referências a animes e mangás.
Além de estarem em um novo estilo de quadrinho.
- E por ultimo, mas não menos importante, a infinidade de
personagens principais (Cebolinha, Cascão Magali etc) e secundários (Titi,
Jeremias, Franjinha) na Turma impediria a temida falta de assunto pra ser
abordado e também causaria a grande diversidade de material que o público
poderia ter em mãos.
Mas se, por um lado, Turma da Mônica Jovem obteve tanto
incentivo dos fãs Chico Bento Moço ( a versão crescida da turma da roça, também
do Mauricio de Sousa) foi uma ideia muito rejeitada pelos fãs quando anunciada.
Muita gente reclamou que Mauricio de Sousa e sua equipe estavam querendo encher seus bolsos de dinheiro. Eles com certeza estão. Mas não é apenas isso.
Chico Bento Moço claramente não é apenas uma repetição do que fizeram com Turma da Mônica Jovem. Claro que o conceito de "eles cresceram" é o mesmo (até vemos uma referência a esta frase na capa acima), mas o conteúdo por trás (ou por dentro) deste conceito se altera bastante.
Pra começar, há um motivo para que o nome seja Chico Bento Moço e não Chico Bento Jovem. O tipo de realidade que será tratada em Chico Bento Moço será uma realidade totalmente diferente da de TMJ.
Enquanto Cebolinha (o principal personagem masculino de TMJ) tem 15/16 anos e se preocupa em como conquistar a Mônica, Chico tem dezoito anos de idade e seu maior problema é enfrentar a vida na cidade e encarar a faculdade de agronomia. Um assunto tao diferente das referências a animes de TMJ que não poderia ter um nome como "Chico Bento Jovem". Este título faria parecer com que fosse tudo farinha do mesmo saco. E não é.
Chico Bento não é jovem, Chico Bento agora é moço!!
Outra queixa do público foi que o universo de Chico Bento não era rico e extenso o suficiente como o da TMJ para que houvesse exploração de conteúdo sem o risco de desgastar os personagens.
Mas eu contrario esta ideia. Acho até que o universo de Chico Bento tem mais a oferecer do que o da Turma da Mônica. Enquanto a galera do Bairro do Limoeiro vive na mesma cidade de antes enfrentando novos tipos de aventuras, a turma da Vila Abobrinha tem a possibilidade de enfrentar novas situações com o passar da idade mas também levam vantagem em um quesito = O ambiente também é diferente do qual estávamos acostumados, criando mais personagens e ainda dobrando o número de possíveis novas aventuras.
E, por falar em universo explorado, pode-se comentar que todo o potencial do Universo Chico Bento foi aproveitado. Pelo menos, na primeira edição, vemos referências a muitas coisas que conhecíamos dos gibis em que o Chico ainda era criança. Algumas são aparições de personagens e menções claras, outras já exigem um pouco mais de atenção (e conhecimento sobre a turma) para serem captadas.
Por exemplo, as principais referências encontradas na primeira edição de Chico Bento Moço se encontram na lista abaixo, por ordem de aparição:
A aparição mais bonita da revista. |
1 - Primeiramente, aparece Chico falando no seu clássico idioma ; O caipirês, enquanto conversa com sua amiga de infância, a vaca Maiada.
2 - Enquanto Chico parte em direção a cidade de Nova Esperança para realizar uma prova, ele se lembra das pessoas que o apoiam. As presentes (enquanto abraça seu pai), as distantes (sua mãe rezando com velas e um terço) e as ausentes. Se tratando dos ausentes, Chico olha para o céu e observa uma estrela. De primeira vista, pode ser apenas uma estrela. Depois de melhor analisado, lembramos que aquela estrela pode ser a pequena Mariana, protagonista da historia "Uma Estrelinha Chamada Mariana", irmã mais nova do Chico que morreu ainda bebê e chegou a aparecer algumas vezes em forma de estrela para ajudar Chico e que, como mostrado na imagem acima, nunca o abandonou.
3 - Chico e Zé Lelé fugindo de um exame de abelhas e pulam em um rio, assim como faziam na infância quando fugiam dos tiros de sal disparados pelo Nhô Lau.
4 - Uma onça (o recorrente monstro que assombrava a turma quando criança) aparece e o pobre do Zé Lelé grita por socorro de um modo peculiar. "Oia a onça!". Quem se lembra dos antigos VHS com o filme do Chico que tenha este chamado como título.
5 - Ao entrar na sala da Diretora Marocas (sua antiga professora) a turminha assume imagem de crianças aos olhos da mulher, o que nos passa uma bela sensação de nostalgia.
6 - Dois personagens clássicos aparecem. Primeiramente, o padre Lino da Vila Abobrinha dizendo para Chico que a fé move montanhas. Logo em seguida, o primo urbano de Chico, o Zeca, conversa com o pequeno caipira pelo telefone, mostrando que apenas mudou em tamanho e idade.
7 - Enquanto se despede de seu pai, Chico abraça também a galinha Giselda, seu favorito animal de estimação.
8 - Um conhecido antigo do Chico aparece. Nhô Lau , que antigamente perseguia os garotos que roubassem suas goiabas, agora presenteia o rapaz com um saco cheio de suas goiabas.
9 - Provavelmente, o personagem que mais vibrei quando o reconheci na revista. Andando pela mata, Chico Bento encontra um homem negro e misterioso pedindo por fumo e que, também misteriosamente, some em um redemoinho. Revelando, assim, ser o Saci Pererê...personagem protagonista das historias que Chico ouvia de sua Vó Dita, que o encontra logo em seguida.
A única coisa que realmente daria motivos para os leitores reclamarem de Chico Bento Moço é o fato de terem sensualizado o pobre do Chico. Podemos aceitar que o público agora é outro e que mudanças são aceitas na aparência dos personagens. Mas sensualizar o personagem que conhecíamos por sua ingenuidade e molecagem é quase inaceitável. Já colocá-lo sem camisa em três quadrinhos da página para que adolescentes histéricas gritem lendo, isso sim é inaceitável.
Porém, de resto, a revista parece bem completa. Claro que esta é apenas a primeira ediçao, então nem podemos tomar nenhuma conclusão precipitada. Pode ser, claro, que quando o Chico finalmente chegar na cidade de Nova Esperança o roteiro se modifique e se distancie muito do que estamos esperando...gerando assim uma decepção.
Mas se tudo for como na primeira ediçao, parece que Chico Bento Moço será uma ótima revista para colecionar. O que nos resta é esperar e torcer pra que nos próximos meses, tenhamos material semelhante aos clássicos, como esse: