terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Homens não amam homens.
Carlos se sentou e chorou. Seu filho, Lucas, acabava de morrer em um acidente de carro.
Carlos sentou e chorou como nunca havia chorado antes. Ninguém esperava que Lucas fosse partir tão cedo e tão tragicamente assim.
Carlos enxugou as lágrimas e começou a pensar. Lembrou-sede tudo, toda a sua vida, todas as pessoas com quem já havia se relacionado.
Pouco antes de nascer, seu pai falecera, não teve uma figura paterna ou ao menos masculina para o educar. Foi cercado de mulheres durante sua vida toda, morando com a mãe, a avó e as tias.
Lembrou de quando entrou na escola, fez amigos. Pequenos garotos com quem jogava futebol, tomava sorvete e brincava com os bonecos da Playmobil. Eram vários, e quando teve que mudar de cidade e de escola, teve que dar tchau á todos. Ficou frustrado por ter perdido os amigos, mas não chorou..e nunca se arriscou a dizer que os amava. Homens não podem amam homens, e isso é fato.
Depois, Carlos pensou em sua adolescência, e de Murilo, seu melhor amigo naquele período. Iam á festas juntos, matavam aula e até espiavam a casa de algumas garotas, ás vezes. Com Murilo, Carlos viveu mais aventuras do que com qualquer outra pessoa, viveu os melhores momentos de sua vida. Mas nunca amou Murilo, homens não podem amar homens, e isso é fato.
Ainda na adolescência, Carlos se tornou um grande fã da Legião Urbana, e o vocalista Renato Russa se tornou seu ídolo. Cada palavra, cada ato e cada música realizada por Renato Russo era inspirador para Carlos e, até hoje, ele segue parte da filosofia de Renato Russo. Mas nunca amou Renato Russo, e nunca ousou dizer que amava. Homens não podem amar homens, e isso é fato.
Depois Carlos pensou em mais tudo. Os amigos da faculdade, os colegas de trabalho, seu sogro, seus cunhados, seus vizinhos, os amigos do futebol. Todos eram homens com quem ele havia tido uma ótima amizade, uma ótima relação. Mas não amou nenhum deles.
Homens não podem amar homens, e isso é fato. Quer dizer, pelo menos isso era o que diziam na TV e o que a mídia pregava.
E ao se lembrar de todos os homens que a mídia e o sistema não permitiram amar, Carlos caiu em choro, lamentando a morte do único homem que ele tinha permissão pra amar. Seu filho.
sábado, 19 de janeiro de 2013
Yu Yu Hakusho, Yoshihiro Togashi e relação paternal.
Quando um autor/criador de uma obra não se preocupa em tirar da obra sua essência, é comum que acabemos aprendendo um pouco sobre a personalidade e a vida do autor, assim como seus gostos pessoais.
Por exemplo, ao assistir filmes dirigidos por Tim Burton podemos notar que o diretor gosta de filmes engraçados e assustadores, gosta do clima tenso e sem cor, sem vida. Podemos afirmar, ao assistir pelo menos dois filmes de Burton, que a escuridão, a tristeza e a satirização da morte são temáticas que o agradam. Assim como podemos notar (ao analisar letras da música) o interesse de Daron Malakian e Serj Tankian (compositores da banda System of a Down) pela temática de suicídio e inconformação religiosa.
Mas ao analisarmos um pouco mais profundamente, podemos também notar não apenas os gostos pessoais ou interesses das pessoas, como também podemos perceber traumas desses autores. Ao repetirem sempre a mesma temática, podemos questionar "Por que pensam tanto nisso?", e assim descobrir traumas de nossos ídolos. Assim é com Kurt Cobain que, em boa parte das suas letras, aborda o tema de sequestro, estupro ou assédio sexual de modo que fica claro que algo relacionado a essa temática possa ter ocorrido em sua infância ou no decorrer de sua vida.
Mas não é sobre Kurt Cobain, SOAD ou Tim Burton que esse texto falará.
O assunto em especial é Yoshihiro Togashi, mangaka responsável pelas obras Yu Yu Hakusho e Hunter X Hunter que, quando criança ou adolescente, teve conflitos com seu pai.
Mas por que é possível afirmar tão facilmente que Yoshihiro tinha problemas com seu pai se nenhuma biografia ou dado sobre sua vida pessoal existe? Fácil. Analise a obra de Togashi, e logo saberá mais sobre ele do que ele (e você) gostaria.
Para ilustrar a melhor situação é melhor analisar brevemente a relação de cada personagem principal de Yu Yu Hakusho (o melhor mangá/anime da carreira de Yoshihiro) com seu pai.
Nota: Se você não assistiu Yu Yu Hakusho e não pretende tomar spoilers da obra, aconselho-o a não ler a análise a seguir, pois muitos fatos do anime serão apresentados. E é preciso o mínimo de conhecimento sobre a história do anime pra que entenda o texto.
Koenma
No anime, Koenma é o príncipe do mundo espiritual. A função de Koenma é julgar aqueles que morrem, decidindo para onde devem ir e se devem ressuscitar (ele foi o responsável pela ressurreição de Yusuke, personagem principal do anime). Se há um príncipe, deve haver também um rei, e esse é o papel de Enma Dayou, pai de Koenma e rei do mundo espiritual. Koenma sempre precisa ficar encarregado e tomar conta de tudo no mundo espiritual, pois seu pai está sempre descansando e pouco se lixando para os deveres de um rei. De modo que todo e qualquer trabalho que Koenma realiza é realizado apenas porque o rei Enma Dayou não quis realizar o mesmo. E a parte das tarefas realizadas por Koenma que não são feitas sob pressão são feitas por medo.
Se Koenma não fizer algum dever do Mundo Espiritual ou fizer mal feito, logo será castigado por seu pai com palmadas em seu bumbum, como sempre é citado (e até mostrado no anime).
E se não bastasse a situação de medo e pressão que Yoshihiro cria entre Koenma e seu pai, ainda há o ponto de que Koenma usa sempre uma chupeta (até mesmo em sua forma "adulta"), que, segundo psicólogos reais, é um indício de que a criança esteja fortemente presa á sua infância. Trauma esse que pode ser causado por pais agressivos e ausentes (coisa que Enma Dayou já provou ser).
Kurama Youko
Kurama é um youkai (demônio) que no Mundo das Trevas costuma agir como ladrão, sempre se envolvendo em batalhas e aventuras e conseguindo problemas desnecessários. Em um desses combates, Kurama ficou gravemente ferido e partiu para a Terra para que pudesse se abrigar no corpo de alguma criança e lá ficar até que estivesse recuperado. Kurama então escolheu a criança Shuuishi Minamino, filho de um casal que vivia muito feliz. Anos se passaram e Kurama ficou forte o suficiente para que pudesse abandonar a família e o corpo de Shuuishi, porém ele percebe que ama sua mãe e não quer abandoná-la. Essa é a história básica da vida de Kurama. Agora, onde está o pai do garoto? Nem sequer é mencionado na sinopse ou em todo o anime.
Na quarta saga de Yu Yu Hakusho, é mencionado que a mãe de Kurama iria se casar. O que houve com o pai de Kurama? Morreu? Se morreu, porque isso não foi contado no anime? Por que toda essa despreocupação e falta de interesse pelo pai?
Hiei Jaganshi e Kazuma Kuwabara.
Não há muito a ser comentado sobre esses dois personagens e a relação com seus respectivos pais. Aliás, Hiei (esquerda) e Kuwabara (direita) nunca tiveram problemas com isso. Seus pais (e sua mãe, no caso de Kuwabara) nunca foram mencionados. Tudo o que se sabe sobre a família de ambos é que Hiei foi abandonado por sua mãe por ser uma criança amaldiçoada, e que possuiu uma irmã (Yukina) do País do Gelo que chora lágrimas de diamante. E sobre a família de Kuwabara a única informação é que possui uma irmã mais velha chamada Shizuka.
Talvez isso não signifique nada mas, tendo em vista a história de outros personagens, pode ser que a ausência ou inexistência da figura paterna tenha algum significado interno para Yoshihiro Togashi.
Yusuke Urameshi
Ao final da terceira saga (A Saga do Capítulo Negro), Yusuke (foto da direita) descobre ser ter descendência de youkais, e por isso ganhou o direito de ressuscitar mais uma vez, só que desta vez com a força espiritual semelhante a de um demônio, ou seja, muito mais poderoso. Ao descobrir isso, Yusuke também se dá conta de que algo possuiu seu corpo e o auxilia nas lutas, e logo descobre que esse "algo" que possui seu corpo é Raizen (foto da esquerda), um dos três Reis do Mundo das Trevas e também seu pai (ancestral). Furioso por ter sido possuído, Yusuke vai até o Mundo das Trevas para "tirar satisfação" e quase é devorado por seu pai Raizen, que em pouco tempo morre por estar há muito tempo sem comer carne humana.
Pode parecer até forçação de barra, mas mesmo que não sejam realmente pai-e-filho, Yusuke e Raizen tem uma ligação ancestral muito próxima e semelhante (tanto que tem várias características iguais, e alguns fãs nem mesmo sabem que Raizen não é o verdadeiro ancestral de Yusuke). E, coincidentemente como Kurama e Koenma, a relação paternal entre Yusuke e Raizen não é das melhores: Um pai que fica ausente da vida do filho durante quatorze anos e tenta devorá-lo no primeiro reencontro não é bem o modelo de pai do ano.
Yomi e Shura
Na última saga (Saga dos Três Reis) ocorre um torneio no Mundo das Trevas cujo vencedor seria o novo rei, no lugar do recém falecido Raizen. Entre as centenas de participantes desse torneio estavam Yomi (foto da esquerda) e Shura (foto da direita), pai e filho. Talvez os primeiros personagens oficialmente "pai e filho" de todo o anime. Mas não é só por serem personagens novos e com características diferentes dos outros que Yoshihiro teria piedade dessa relação. Uma das primeiras batalhas do torneio é realizada entre Yomi e Shura, e Yomi vence, claro. O próprio Shura pediu que Yomi não tivesse piedade durante a luta, e teve seu pedido atendido. Porém, diferente de outros pais e filhos de Yu Yu Hakusho, Yomi ainda demonstrou um pouco de simpatia pois, ao lutar com Yusuke no final do anime, demonstrou que se fortalecia ao saber que seu filho estava na platéia torcendo para ele. Mesmo assim, amor, carinho e apoio moral á parte...mesmo no mundo dos animes, disferir chutes na face de seu filho ainda criança não é algo que caracterize uma relação paterna saudável.
Depois de analisarmos seriamente cada personagem que tivesse uma história de vida ou características que pudessem estar de acordo com o tema deste texto, é fácil arriscar dizer que Yoshihiro Togashi realmente retratou em seus personagens algum trauma adquirido em uma relação paterna que pode ser tanto a relação que o mangaka teve com seu pai ou então a relação que tem com seus filhos (que podem ou não existir, sendo que pouco se sabe sobre a vida pessoal de Yoshihiro).
Alguns poderiam dizer que tudo isso é alucinação, imaginação minha e que, na verdade, os relacionamentos paternais são detalhes caprichosos de Yoshihiro, talvez apenas uma mania dele, sem ter ligação com algum trauma...alguma coisa boba sem ter explicação. É até plausível isso, mas tudo precisa de uma explicação...e se essa teoria de que sejam só "caprichos", é necessária uma explicação de porque a única relação paterna saudável do anime é de Keiko (namorada de Yusuke) e seu pai.
E agora, o que tem a dizer, Yoshihiro Togashi?
Deixe sua opinião nos comentários. Arigatou gozaimasu!!
domingo, 6 de janeiro de 2013
Você Morreu.
Então seu pai não te respeita e
sua mãe não te quer.
Você não é amado por nenhuma mulher.
Você não tem emprego,
você não tem amigos.
Você não tem dinheiro,
você não tem abrigo.
Mas tudo vai melhorar.
E o responsável por isso tem o seu nome.
Lute pra mudar a vida, faça acontecer.
Seja homem.
As coisas ruins tem solução
e as boas tem melhoria.
Se acha que sua vida tá perdida,
olhe pra dele, olhe pra minha.
Faça o que quiser pra esquecer sua dor,
só não tente abafar com uma maior.
Suicídio e homicídio, é tudo parecido.
Mas se matar é muito pior.
Porque você não está preso.
Não tem tempo pra aprender com os seus erros.
Porque você morreu, se foram as oportunidades que podiam te salvar.
Porque você morreu, você morreu.
Você morreu, e o problema é seu.
Ou era, já era.
Antes tinha jeito
de te salvar dos seus defeitos.
Mas não tem mais...e por que?
Porque você morreu...
Você morreu, e se fodeu.
Você morreu, e o problema é só teu.
Você morreu, morreu, morreu, morreu.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
2 de Janeiro de 2013.
Hoje é dia dois de janeiro de 2013, e isso significa que antes de ontem foi a celebração que costumamos chamar de "ano novo ".
Vim planejando esse dia por semanas, tendo decidido que, no dia trinta e um de Dezembro de 2012, quando o relógio batesse meia-noite e 2013 tivesse oficialmente chegado, eu diria uma palavra que, como algumas superstição bizarra, seria a primeira palavra pronunciada no ano e seria a palavra que resumiria meu 2013.
Tudo bem, todo mundo tem suas manias idiotas, posso ter a minha também.
Só faltava decidir qual seria a palavra. Amizade? Amor? Dinheiro? Sucesso? Não conseguia me decidir a qual palavra eu dedicaria meu próximo ano.
A dúvida ia aumentando, palavras iam surgindo em minha mente, e todas pareciam tão boas que não fazia ideia de qual escolher.
O tempo passava e nada de escolher a palavra.
Até que chegou o dia, chegou a hora...e faltava apenas um minuto. Durante todo esse minuto pensei em inúmeras palavras e não consegui me decidir por nenhuma...até que "BUM", um dos primeiros fogos de artifício, a marca oficial de que era meia-noite e que 2013 havia chegado. E eu sem pensar em nenhuma palavra.
Até que um de meus familiares se aproxima, me abraça e diz:
- Feliz ano novo!
E eu respondi:
- Feliz ano novo.
E foi aí que me dei conta. Embora não tivesse conseguido escolher uma palavra pra dizer, a primeira palavra que eu disse, mesmo que sem planejamento, em 2013 foi "feliz".
E eu não poderia ter escolhido palavra melhor, pois "feliz" é o que quero ser, e é também o que quero que as pessoas a meu redor sejam.
E, como prévia de que 2013 vai ser um ano bom, já aprendi uma lição:
As escolhas tomadas "na hora" costumam ser melhores do que as que você fica muito tempo planejando.
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