segunda-feira, 11 de maio de 2015

Entrevista - Glauber Lopes

Glauber Lopes é ilustrador paulistano. Tem trinta e um anos e desenha dese os seis. Influenciado por obras diversas como Turma da Mônica e Dragon Ball Z, decidiu bem cedo que iria trabalhar com quadrinhos.
Cursou design gráfico  pois era o mais próximo que existia de histórias em quadrinhos. Com muito suor, esforço, estratégia, criatividade e autenticidade, Glauber está atualmente com o projeto Registros que acabou de bater a meta! Uhuul!!
 O Literatura do Guimarães o convocou para que pudéssemos bater um papo saudável sobre quadrinhos...e rendeu BASTANTE! Acompanhem!



LDG – Você disse que foi bastante influenciado por quadrinhos, a ponto de ter decidido a carreira quando criança e escolhido a faculdade baseado nisso. Na sua fase adulta, como trabalhou essa vontade louca de fazer quadrinhos com a necessidade de trabalhar?

Glauber - Já na fase adulta, fiz faculdade de design gráfico pois era o que mais se aproximava do que eu queria naqueles tempos.

LDG – Onde se formou?

Glauber – Me formei nas faculdades Oswaldo Cruz – FAITER.
Nesse meio periodo entre faculdade, formação e o que eu deveria fazer com a minha vida, muito do que eu gostava ficou pra trás porque naqueles tempos não tinha previsão se seria possível viver de ilustrações, muito menos quadrinhos...Então tentei trabalhar em alguns estúdios com design, mas eu nunca encontrei alegria nesses lugares.
 Foi então que comecei a refletir o que eu poderia fazer. Enquanto isso, estava buscando maneiras de manter os quadrinhos vivos. Percebi uma onda crescente de webcomics surgindo na internet então testeria com algum título.
Foi aí que nasceu minha HQ Speed, que conta com 80 episódios hoje em dia, mas desenhados apenas 2 (eu não conseguia encontrar tempo pra desenhar sempre porque chegava muito quebrado do trabalho).
O primeiro episódio tinha levado um ano pra fazer (2008), e o segundo levei mais um ano (2009). E o segundo episódio só saiu por que fui em uma feira de cultura japonesa na época e vendi todas as cópias do primeiro exemplar. Daí queria imprimir uma segunda leva com o segundo, terceiro e quarto episódio, mas eu não estava conseguindo fazer. Vivia trocando de emprego e nenhum me agradava. Tinha perdido o gosto de desenhar por prazer, já que tudo que eu tinha que fazer era por dinheiro. Me incomodava também o fato de todos falarem que mangá não funcionava no Brasil...e eu queria provar que as coisas eram diferentes. Que quadrinho em estilo mangá  poderia ser algo bacana, desde que muito bem feito.

Página de Speed!

 Glauber - Mais uma vez, eu não encontrava tempo pra produzir as coisas do jeito que queria e estava muito desmotivado. Conforme estudava o nosso mercado, descobri que histórias seriadas não vingavam devido a seu alto custo de produção. Nessa época eu lembro que não queria mais saber de produzir até descobrir o que eu poderia fazer com aquilo tudo. Depois de 2009, cheguei a conclusão apenas no final de 2011 que o que eu deveria fazer eram histórias curtas. Dessa forma, poderia seguir trabalhando e concluir algo.
 No comecinho de 2012 escrevi então uma história chamada "Mãe", com começo, meio e fim. Me dei conta de que tinha sido a primeira vez que tinha feito isso, por que tudo que sempre desenhei eram histórias de muitos capítulos (seguindo o raciocínio japonês de histórias seriadas...eu adoro isso).
 Comecei a colocar ela no papel, e apenas pelo storyboard percebi que ela teria mais de 300 páginas.  Pensei comigo que conseguiria desenhá-la dentro de um ano ou dois. Precisaria apenas seguir ganhando dinheiro como freelancer e dando aulas. Mas na época os trabalhos não apareceram mensalmente, me forçando a procurar empresas pra trabalhar como assalariado novamente. Mais uma vez, eu estava sempre cansado e não conseguia produzir nada...
 Foi então que deixei mais uma vez uma estória de lado e achei que era hora de fazer ,então, uma história ainda mais curta. Foi onde nasceu Registros, em que a primeira história eu publiquei inteira no Facebook e tinha apenas 12 páginas. Senti uma alegria muito grande porque enfim tinha conseguido terminar algo! E as pessoas me dando feedback de que gostavam foi ainda melhor!
 Essa motivação toda me fez perceber que eu não estava pronto para grandes histórias...que eu precisava me disciplinar a fazer coisas curtas, pra depois ir aumentando...e assim eu segui desenhando o segundo episódio de registros quando tinha dinheiro comigo. Os freelas foram aumentando, e eu tinha mais tempo pra desenhar a HQ. Apesar disso, só consegui terminar de desenhar HQ no ano de 2014, em meados do final de setembro.
 Foram dois anos de produção e nesse tempo estava procurando maneiras de aprender a desenhar mais rápido. Acabei aprendendo várias técnicas de pintura que me tornaram mais rápido. Acredito que foi por isso que consegui terminar esse projeto. Feito isso, ainda nesse meio tempo, fiz páginas da HQ A Última Fábula de Francisco Costa.
 Percebi como estava desenhando rápido e minha produção tinha melhorado por conta da quantidade de coisas que era capaz de entregar por mês. Feito tudo isso, era hora de investir na campanha pro Catarse, onde levei mais dois meses de produção. Hoje a luta segue pra tornar esse projeto real enquanto participo de outros, como o livro Ciclanos e Ciclanas, de Pedro Balboni.

Ciclanos e Ciclanas


 Glauber - Minha ideia é atingir a meta final dessa campanha, e quando entregar todas as recompensas e trabalhar na venda de Registros, separar o ano que vem para começar meu novo título, que está semi escrito, mas precisa de mais aprofundamento. Aí essa história será em estilo mangá adulto.

LDG - Entendo, cara. Você até que tem uma puta história de vida, relacionada a persistência. (risos)

Glauber - Meu lema é perseverança sempre (risos). Teimosia também (risos).

LDG -  Essas suas duas primeiras histórias, Speed e Mãe. Eram sobre o que?

Glauber - Speed era mangá adolescente, sobre um garoto que queria se tornar campeão de campeonato de bikes no mundo. Ele queria ser o maior e melhor de todos. A história começa em São Paulo, um time de bike bem pequeno que vai crescendo no decorrer do tempo. Mas quando leio, hoje em dia, vejo vários problemas no roteiro e que tenho que mexer em muita coisa.



 LDG – E Mãe?

 Glauber - Mãe já é uma história mais adulta e cruel onde uma menina de doze anos sofre na vida por ter uma mãe inconsequente e irresponsável. Essa mãe acaba se suicidando, se jogando na linha do trem, e a menina fica sozinha no mundo com seus dois irmãos menores. Essa história fala de como as pessoas podem ser egoístas de várias formas.

 LDG - São duas histórias com premissas e tons bem diferentes uma da outra. Isso tem a ver com a sua situação na época em que fez cada uma ou é porquê as ideias vieram de lugares diferentes?

 Glauber - As ideias vieram de lugares diferentes da minha mente, mas todas tem relação comigo. A primeira fala muito da perseverança, que você já percebeu que faz parte de mim. (risos). A segunda fala sobre o ego,e  o meu incluso. Em outras palavras – São fragmentos de mim.

 LDG - Mas como encara as duas histórias? São pessoais a ponto de deixá-lo exposto caso algum conhecido as leiam ou são pessoais estritamente pra você, baseado nas coisas que você pensa e sente sobre os temas sendo abordados?

 Glauber – Segunda opção (risos). A única história que eu me exponho diretamente é Registros...que não tem como ser diferente. Mas na real, eu não gosto de falar de mim...eu prefiro falar de outro jeito. Como a maioria dos quadrinistas fazem.

Desenhos de "Mãe".

 LDG – E onde essas duas primeiras histórias podem ser achadas?

 Glauber - Em lugar nenhum, por enquanto (risos). Eu preciso consertar a primeira e fazer a segunda.  São histórias que considero bacanas e que merecem conhecer o mundo.

 LDG - Você disse que gosta de falar de si mesmo utilizando suas obras como outros quadrinistas. Quais são seus quadrinistas favoritos e os que mais lhe influenciam?

 Glauber - O primeiro deles é Akira Toriyama que, sem sombra de dúvida, foi o meu grande mestre a distância e que me treinava sem saber. Takehiko Inoue e a sua incrível maneira de contar histórias que encantam, como Slam Dunk e Vagabond. A primeira, um tanto quanto adolescente mas que te prende fortemente. Fico pensando como uma pessoa conseguiu transformar uma história de basquete em momentos tão fodas. E Vagabond que é super visual...um mangá "quieto", por que muito do que se passa lá te faz querer ficar parado em um quadrinho por minutos...você quer ler a imagem. E na verdade, você precisa, se não, não vai entender a história. E pra terminar os artistas que me influenciam visualmente, tem o Hiroaki Samura, com a maneira espetacular de contar uma história de forma cinematográfica.
Ilustra de Florent Sacré, um dos ícones do Glauber.
Agora os que me influenciam na parte de roteiro, fotografia e outras coisas, tem o Miyazaki do Studio Ghibli, o Naoki Urasawa que conta uma história como ninguém. Tem o Nicholas de Créci, Bastien Vivés, Cyril Pedrosa,Moebius...
Todos eles me influenciaram de forma visual e de como contar uma história. Também não posso esquecer de Florent Sacré (com quem já tive a honra de conversar) Kim Jung Gi e Craig Thompson. Acho que é isso (risos).

 LDG - E entre as webcomics brasileiras? Se já chegou a se render a elas, quais são as que acompanha ou as que mais gosta?

Glauber - Não tenho muito costume de ler webcomics...não me recordo de nenhuma agora que eu realmente leia e acompanhe. Lembro de um tempo que parei pra ler o Ledd, e tava me interessando pra saber onde ia dar a história. Mas eu acho que ele parou de desenhar...não sei o que houve.

Ledd, de J.M. Trevisan e Lobo Borges

 LDG - Nem mesmo essas tirinhas sem continuidade que tanto habitam a internet brasileira, como Dr Pepper ou Um Sábado Qualquer?

 Glauber – Leio de vez em nunca. Não tenho muito costume, leio mais as que aparecem na minha timeline, no Facebook.


LDG – Compreendo. E influência de outras mídias? Cinema, TV e música? Acha que tudo isso que consome influencia no seu trabalho? Quais obras, em específico?

Snarky Puppy, banda que o Glauber curte.
Glauber - Sim, eu adoro cinema, fotografia e música. Acho que isso tudo tem a ver com quadrinhos. De filmes...bom, difícil pontuar aqui. Vou tentar falar de alguns que lembro agora: Birdman, A Teoria De Tudo, A Árvore da Vida, etc. Fotografia não sei te dizer um artista em específico. Eu vejo muita coisa linda na internet e não pego o nome do cara. As bandas que estou escutando agora são Snarky Puppy, Jason Mraz, Juanes, KT Tunstall, Djavan, Ivan Lins, Laura Pausini, Testament, NickelBack, The Knack, The Pillows, etc. Eu sempre tô escutando muita música e vendo muitos filmes.

LDG - Posso ver que os quadrinhos que lê são bem diferentes entre si assim como as bandas que escuta também não possuem um gênero ou estilo padrão. Na sua opinião, esse ecleticismo e variedade prejudica ou ajuda nos seus trabalhos?

Glauber - Pra mim ajuda, por que eu não gosto de mesmice. Acho que te limita criativamente e te faz sentir coisas repetitivas. A gente não consegue ser igual todo dia, mesmo que queira. Tem dias que você tá mais animado, tem dia que você tá mais irritado...e tem dia que você tá animado e feliz e no outro tá aborrecido e triste, entende? São uma série de sensações por dia. O que eu vejo, escuto e sinto precisa ser assim também. Tem que haver um movimento, dentro e fora.

LDG - Acha que conseguiria, por exemplo, escrever uma história sobre tristeza e, logo após que a terminasse, escrever uma sobre amores correspondidos sem que o contexto de uma influenciasse na outra?

Glauber - Acho que sim. Mesmo porque eu sei me desapegar das sensações que sentimos quando criamos. O único problema de escrever uma coisa em seguida da outra é que a sua cabeça tá cansada, e ainda apegado com a outra história. O que eu sempre faço é dar um tempo até que esteja totalmente desapegado. O que eu quis dizer é que eu consigo fazer com que essas duas histórias te passem sensações distintas. Cada qual cumprir com a sua função. E não fazer com que ,de alguma forma, uma esteja apegada a outra. Não sei se ficou claro.

LDG – Ficou sim, ficou sim. Para dar início a um novo "debate" - Uma das formas de ter certeza de que sua história vai tomar o rumo que você deseja é deixando-a sempre em suas mãos. Você, então, terceirizaria uma "história" sua ou algum personagem, como fazem os criadores de super-heróis e como fez Mauricio de Sousa com a Turma da Mônica? Tipo, deixaria que outras pessoas criassem histórias para eles mesmo que corresse o risco dos personagens sofrerem alterações indesejadas por você?

A admirada turminha da Mônica, de Maurício de Sousa.
Glauber -  Não. Eu sou muito excêntrico nesse ponto e faria mais ou menos como Miyazaki: teria um estúdio pra apenas produzir o que eu criasse. O roteiro ,então, sempre ficaria nas minhas mãos, assim como o ângulo de câmera, as falas e tudo o mais. E a arte finalização deixar na mão dos ilustradores.  Uma coisa que eu to fazendo com um amigo é uma parceria, onde eu escrevi a história e ele desenha.  Mas o roteiro, sofreu pouca influencia dele, assim como os desenhos sofrem pouca influencia minha.  Acho que assim as coisas andam melhor, por que tem a mesma personalidade do começo ao fim. O jeito que a Marvel faz pode-se notar que os personagens tem várias facetas, e isso eu não gosto. É interessante que um trabalho em quadrinhos tenha uma franquia de produtos, mas deve-se levar em conta a integridade e autenticidade da obra.
 Mauricio de Souza sabe controlar isso melhor, por que as historias da Mônica seguem o mesmo padrão desde sempre. Não ocorreu o mesmo com a Marvel. Certamente, o Mauricio analisa tudo com muito cuidado.

 LDG - Sim, como ele mesmo diz, nada é publicado sem que ele ou sua filha Marina, filha com maior participação nos estúdios, leia antes.

Glauber - Pois é! Existe uma preocupação maior do que mercadologia e eficiência nas vendas
Hoje em dia eu não leio comics e esse é um dos motivos. Já tem muita coisa feita que não tem o menor sentido nas séries. Homem Aranha, por exemplo, era o que eu mais gostava e eles destruíram o personagem com histórias nada a ver,vilões piores ainda. Por isso que hoje as histórias não tem a mesma força e, nos filmes, ficam focando só no começo da série. Na minha opinião, esse personagem tá quase morto!

Homem-Aranha, que Glauber diz estar quase morto. 

LDG - Mas não acha que se fosse o Stan Lee que escrevesse SEMPRE, como era no começo, o personagem hoje em dia  não seria o ícone que é?

Glauber - Se fosse ele sempre, seria totalmente diferente o rumo do personagem. Porque quer queira quer não, quando a gente cria algo, é parte da gente. E só o criador sabe o que ele quer com a cria e que rumo ela deve tomar.
Hoje os filmes da Marvel tem um padrão de qualidade porque ele tá envolvido...tenho certeza disso.

LDG - E nesse tempo em que inúmeros quadrinhos são adaptados pra séries de tv ou filmes, você já imaginou alguma obra sua sendo adaptada pra outra mídia? Ou gosta de imaginar um quadrinho apenas como quadrinho para que a pressa do seu pensamento não prejudique a obra?

"Mãe" que Glauber desenhou imaginando que poderia virar filme!
Glauber - Eu fico imaginando sim! Adoraria ver a história "Mãe" no cinema. Aliás, quando a escrevi, eu fiquei pensando e adaptando ela pro formato cinematográfico. Tanto que a dividi em 4 episódios mesmo sendo uma história fechada. A única ressalva que faria seria participar da produção animada (ou filmada) para que assim nada se perdesse e o diretor não viajasse muito com adaptações. Mais ou menos como o Lourenço Mutarelli (Corpo Estranho, O Cheiro do Ralo) faz. Aliás, eu admiro esse cara demais. Não entendi a parte de "pressa do pensamento"

 LDG - Por exemplo, se você não acha que pensar na HQ como um filme pode atrapalhar que você continue a encarando como uma HQ e acabe prejudicando a mesma por causa disso.

Glauber - Bom, eu pelo menos quando faço HQ, procuro sempre utilizar da linguagem de HQ adicionado a linguagem do cinema. Isso em tudo que eu faço então não encontro esse problema de adaptação. Também sei que certas situações da HQ, se adaptada ao cinema, elas precisam de nova roupagem. Porque é utilizado o movimento e o som.

LDG – Então pra você funciona?

Glauber – Funciona!

LDG - Com esse seu pensamento de que a "terceirização de personagens" ´pode prejudicar uma história...você toparia se fosse chamado pra escrever uma história pra algum personagem já existente?

Glauber - Se eu gostasse do personagem, sim. Mas você pode ter certeza que eu morreria de medo de descaracterizar ele. Por isso eu tenho essa preocupação com os meus personagens. Se uma pessoa quiser "terceirizar"o personagem dele(a), por mim tá ok.

LDG - Compreendido. Outro conceito - Você ilustra a história roteirizada por outras pessoas, mas roteirizaria algo por encomenda (quase como uma história feita como freelance) ?

Glauber - Claro que sim! Seria muito divertido! Eu não tenho restrição pra temas...quer dizer, terror eu não gosto. Então, tudo, menos terror, eu faria com gosto. A minha preocupação estaria mesmo com o prazo que me dessem. Porque eu gosto de estudar bem o que eu faço, odeio coisa mal fundamentada.

LDG - Mas não tem medo da pessoa ou instituição que tivesse incomodado ficar botando dedo no roteiro e acabar tirando a sua identidade da HQ?

Freelance que Glauber fez pra um casal. Fofo, não?
Glauber – Tenho (risos). Mas eu tenho a consciência de que desde o inicio, o projeto não é meu. Então fico mais tranquilo com isso. O que eu faço é ouvir o cliente, e saber se o que ele quer dá certo ou se fica bonito. Se não ficar, eu faço adaptações e explico os porquês.

LDG - Mas, por exemplo, deixaria ser publicado algum trabalho seu que você considerasse ruim mas que o cliente (que encomendou o trabalho) tivesse gostado?

Glauber - Sim, eu deixaria...se o cliente fizer muita questão ok. Mas eu não divulgaria (risos).

LDG - Pra você divulgar um trabalho seu, quais são as características que ele PRECISA ter? Cite três.

Glauber - Pra que eu divulgue um trabalho eu acho que ,essencialmente, PRECISA estar bonito. Então uma boa composição, boa escolha das cores e um bom contraste.

LDG - E o roteiro? Como o elabora a partir do momento em que a ideia surge na sua cabeça?

Glauber - Começo pelo ponto chave do roteiro que seria: o motivo dele existir. Tem gente que escreve focando no personagem principal e pra mim isso atrapalha. A história não tem motivo pra existir, e o personagem não adquire um propósito dentro da trama. Depois, eu escrevo o final. Eu preciso saber como ela vai acabar pra poder escrever o começo e depois o meio. Dessa forma, a história tem muito mais fundamento.

LDG - E quando se adapta histórias reais, como faz no seu projeto Love Files ?

Glauber - Aí fica mais fácil porque eu já tenho tudo: sei como tudo começou e como acaba. A minha unica missão é adaptar aquilo pra mídia em questão.

LDG - Como é esse projeto?

Glauber – Love Files eu comecei a produzir porque estava pensando em meios de ganhar dinheiro e ao mesmo tempo fazer o que mais amo, que são os quadrinhos. Já tinha dado um presente assim pra uma ex-namorada, e achei que poderia fazer isso para os outros. Porque não deixa de ser um presente bacana. Acabei encontrando o primeiro e segundo cliente, que pediram as histórias por encomenda. Aí é como contei: o cliente me manda a história meio que dissertando, e eu adapto pra quadrinhos. Depois o cliente avalia e eu finalizo. Pra fazer a versão impressa, eu peço permissão do cliente. Porque é a vida dele, tem total direito. Aí depende do tamanho da história (oito, doze, dezesseis, dezoito, vinte, vinte e quatro ou trinta e duas páginas), cada uma tem um preço.

Capa de Lifting Spirits, que você pode ler completa aqui!

LDG - E essas que foram produzidas, seriam histórias que você leria e recomendaria se não fossem suas ou as vê mais como um trabalho rentável mesmo?

Glauber - Nãoooo, foram histórias muito bonitas! Não sei se você leu, mas eu gostei muito do que descobrir. A primeira se chama Lifting Spirits e o que eu mais gosto de saber é que hoje eles são casados. Então isso me deixa muito satisfeito. Histórias com finais felizes. Aliás, eu sugiro dar uma lida. Vai ver como são histórias de romance bem bacanas. Se tiver difícil de ler os balões, pode fazer download das páginas.

Página de Lifting Spirits.
LDG – Mas enfim, para que a entrevista não fique quilométrica...seu projeto mais comentado atualmente é o Registros. Fale um pouco sobre ele.

Glauber – Sim. Bom, eu falo meio que a mesma coisa por aí (risos). Não tem muitas coisas diferentes também pra se falar (risos). Se trata de uma HQ que retrata minhas aventuras como mochileiro pela Argentina e pela Colômbia. Nessas histórias, coloquei um toque de poesia, de literatura, de drama, filosofia e aventura. Foi a maneira que encontrei pra traduzir tudo que vivi. Porque na real, é um pouco impossível de querer traduzir todas as maravilhas que é fazer uma viagem como  mochileiro. Mas as principais coisas tão lá. São 48 páginas de conteúdo bem bacana, que não se vê muito por aí. Todas são coloridas, tem uma sessão de dicas pra quem quiser se tornar mochileiro também. 

LDG - E como surgiu a ideia? Veio depois da viagem finalizada ou enquanto você viajava já estava pensando "Putz, isso aqui dá uma HQ, hein?" ?

Glauber - Não, não. Como disse lá no começo, eu precisava escrever uma HQ que fosse mais rápido de fazer, que coubesse dentro do meu tempo. A ideia veio uns vinte dias depois de eu voltar pro Brasil. Pensei comigo que seria uma boa contar, já que foram acontecimentos tão diferentes e bem longe do comum.



LDG - Sempre que termino de escrever qualquer coisa,a  primeira pergunta que me faço é - Por que os outros leriam isso? Então...por que acha que as pessoas leriam Registro? E você a leria, pra início de conversa?

Glauber - Acho que Registros vale a pena ser lido por pessoas que sejam curiosas pela vida e que gostam de desafios. Foi isso que me motivou a viajar. E durante a viagem, passei por transformações muito grandes. Acho que todo ser curioso, busca por essa evolução pessoal e Registros tem essa capacidade de conectar o leitor, desde a dúvida, o caminho do esclarecimento e a resposta. No final, se tem uma realização. Hoje me sinto muito mais realizado e através da história, conto como isso aconteceu. É praticamente um convite do tipo "ei, leia essa história aqui. Ce vai ficar louco querendo viajar também e descobrir coisas do mundo e de si mesmo que jamais poderia imaginar!"

Preview de Registros.

LDG - E por que resolveu ilustrar com este traço mais amigável ao invés do traço mangá que você tanto prefere?

Glauber - Porque eu acho que não caberia o estilo mangá. O assunto em si foge da narrativa do mangá, então era importante criar um traço. Quem me conhece sabe que minhas raízes são o mangá. E eu não consigo fugir muito...se você reparar, ainda tem muita coisa que lembra.

LDG - Consegue enxergar Registros crescendo e ganhando "sequências", mesmo que não sejam adaptadas de viagens reais?

Glauber - Eu prefiro focar em viagens reais...mas nunca se sabe, né?

LDG - E o medo de rolar aquela pressão? De toda viagem que for fazer acabar tendo, consigo mesmo, a obrigação de registrar em HQ?

Glauber - Na verdade não. Eu já tive uma conversa séria comigo mesmo pra que essa paranoia não ocorra. E decidi que somente as histórias que mudarem a minha vida de alguma forma merecem um registro.

LDG - Além, então, de persistência e teimosia...faz parte do seu lema o tal do auto-controle, né?

Glauber - Eu não diria que é um lema, mas é algo que procuro ter sempre dentro dos meus hábitos. Acho importante a gente estar se policiando, até pra não falar bobagem, ou se irritar demais...ou qualquer comportamento que cause desarmonia á toa.

LDG - Tudo isso pensando no bem estar da sua obra...e do seu mesmo, né?

Glauber – Exatamente. A viagem me ensinou que somos capazes de ter controle total sobre nossas vidas, mas não pela vida. Não podemos controlar nada, apenas participar.

LDG – Algo parecido com destino?

Glauber - O destino é entendido como algo pre destinado. E eu não sei se tudo é pré destinado...ou parte. Não sei mesmo. O que eu sinto é que a vida nos trás coisas pro nosso crescimento. Mas se aquilo já estava escrito pra você, eu não sei.


LDG - Entendo. Bem, Glauber, a entrevista já está chegando ao fim...então, gostaria de lhe perguntar mais duas coisas: Primeiro, para os leitores que estão pensando em começar a ler quadrinhos agora, o que você sugere como um bom HQ de início?

Glauber - Acho que se for uma criança, começa com Turma da Mônica que é legal. Se for adolescente, pode ler mangá ou comics...então eu sugiro Dragon Ball e X-Men. São clássicos que mostram os padrões de cada estilo e vai situar bem a pessoa.  se for adulto, que ele ou ela leia graphic novels, seja MSP ou títulos europeus e americanos. Ah!! Que leia também os mangás, seinen como Monster, de Naoki Urasawa.

LDG - E as dicas para quem está pensando em começar a trabalhar com quadrinhos?

Glauber - Pra trabalhar com quadrinhos, antes de tudo tem que aprender a desenhar fazendo cursos de desenho. Assim que a pessoa se sentir bem desenhando, que tudo estiver meio que dominado, aí fazer um curso de roteiro (que a maioria não faz). Quando for começar a praticar, fazer histórias curtas de duas páginas com começo, meio e fim. Além de fazer tiras. Começando a se sentir confortável, aumenta o número de páginas. Fazer vários temas pra ir se acostumando com os tempos que cada tipo de quadrinho dispõe. Tenho certeza que, começando assim, essa pessoa vai se tornar um grande profissional!


LDG - Muito obrigado, Glauber. Valeu mesmo por ter topado participar da entrevista o/ !


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